PCC está na eleição de SP, nos ônibus nas ruas, na chantagem a comerciantes
O PCC tem sido onipresente no noticiário paulista nas últimas semanas. Está nas eleições municipais, em falcatruas envolvendo contratos com empresas de ônibus, controlando a dinâmica do comércio no centro da capital e até em denúncias do fogo que ardeu no interior do estado.
Pablo Marçal está cercado de correligionários acusados de negócios com o Primeiro Comando da Capital. O presidente de seu partido, o PRTB, Leonardo Avalanche, foi gravado dizendo ter vínculos com o grupo criminoso e ter sido responsável por soltar André do Rap, um de seus líderes. Foi Avalanche que garantiu a candidatura para Marçal.
Ao mesmo tempo, Tarcísio Escobar, ex-presidente estadual do PRTB, e seu sócio Júlio César Pereira, o Gordão, aliados de Avalanche e articuladores do partido, teriam trocado carros de luxos por cocaína para o PCC, segundo investigação da Polícia Civil. Marçal alega ser o limpinho entre imundos.
São Paulo ser governada por um partido cuja cúpula é gravada afirmando ser próxima do crime organizado é um passo adiante da situação que temos hoje, que já era preocupante.
Apontado como dono da empresa de ônibus Transwolff, que conta com concessões na zona sul da capital paulista, Luiz Carlos Pacheco, o Pandora, foi preso, em abril, na Operação Fim da Linha - que investiga um esquema de lavagem de dinheiro do PCC usando a viação. Foi solto em junho, mas é acusado de apropriação, extorsão e lavagem de dinheiro.
"Entre agosto de 2018 e julho de 2019, Luiz Carlos Pacheco auferiu R$ 34.246.546,00 em sua conta Banco do Brasil, tendo sido enquadrado como objeto de movimentação de recursos incompatível com sua atividade econômica ou ocupação profissional, em desacordo com seu cadastro junto à instituição financeira", afirma o Ministério Público. A Transwolff teria recebido R$ 54 milhões do PCC vindos do tráfico e de crimes.
Em junho de 2006, Pandora já havia sido preso acusado de financiar uma fuga de membros do PCC da cadeia de Santo André.
Ele é ligado ao presidente da Câmara dos Vereadores, Milton Leite (União Brasil). Promotores do grupo de combate ao crime organizado afirmaram que Leite teve "papel juridicamente relevante na execução dos crimes sob apuração" envolvendo a Transwolff. Os seus sigilos fiscal e bancário foram quebrados com autorização da Justiça.
O vereador foi fiador da gestão do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). Leite nega as relações, mas isso torpedeou a chance de ele ser candidato a vice.
Outra investigação do MP-SP prova que o PCC anda bem ocupado na capital. A facção teria fechado um acordo com membros da Guarda Civil Metropolitana para mover a "cracolândia" do centro de lugar a fim de forçar os lojistas a pagarem propinas. Se pagassem R$ 50 mil por mês, eles empurravam os usuários de drogas para outra área de comércio, caso contrário, os mantinham lá.
É máfia com milícia, criando o problema para vender segurança e evitando uma solução para o problema de saúde pública.
A facção criminosa também pode estar por trás de parte dos incêndios provocados no interior de São Paulo nos últimos dias, que tornou o ar irrespirável em dezenas de cidades e mandou milhares de crianças e idosos para os hospitais. Um dos presos por atear fogo na região de Batatais (SP) disse ter cumprido ordens do PCC.
O Ministério Público duvida da relação e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) aponta que o preso não consta da base de integrantes da facção e não foi detectada comunicação dele com o PCC. Mas as investigações sobre a origem do fogo, que não teve causas naturais dada a quantidade de focos, continua.
E se a estiagem agravada pelas mudanças climáticas garantiu que as chamas se espalhassem rápido, o crime, seja organizado ou não, disparou o gatilho.
Seja mordendo as franjas do sistema, seja através do voto popular, São Paulo vai sendo controlada pela máfia. Seguindo a toada, quanto tempo para as principais decisões serem tomadas não do Palácio Matarazzo ou do Palácio dos Bandeirantes, mas da Penitenciária Federal de Brasília, onde está recolhido Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola?