Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Maduro constrange Lula com sua retórica do 'banho de sangue'

Às vésperas da eleição presidencial na Venezuela, Nicolás Maduro já não pronuncia discursos políticos. Num comício realizado em Caracas, despejou sobre o microfone ganidos apocalípticos de um cachorro louco. Disse que haverá um "banho de sangue", uma "guerra civil" no país se ele não for reeleito nas eleições marcadas para o próximo dia 28 de julho.

O que Maduro rosnou, com outras palavras, foi mais ou menos o seguinte: "Nenhum resultado será admissível na sucessão presidencial venezuelana, exceto a continuidade da ditadura". Uma ditadura que já dura duas décadas e meia se os mandatos de Maduro forem somados aos do antecessor Hugo Chávez.

O comportamento do ditador consolida o sepultamento do plano de Lula de mediar um processo de conciliação no país vizinho. O funeral começou com a inabilitação de María Corina Machado. A cova foi aberta com o bloqueio do registro da candidatura de Corina Youris, o Plano B da oposição.

Agora, Maduro joga terra em cima da pretensão de Lula ao insinuar que não aceitará uma eventual derrota para Edmundo González Urrutia, o derradeiro representante oposicionista numa disputa marcada pela opacidade, pela sabotagem e por prisões arbitrárias.

Por mal dos pecados, a eleição na Venezuela está separada da posse do eleito por um período de quase seis meses. É tempo suficiente para que Maduro fabrique um Apocalipse sanguinário na hipótese de uma improvável derrota.

Cada vez que Maduro late em Caracas, constrange alguém em Brasília. No ano passado, Lula estendeu o tapete vermelho do Planalto para Maduro. Referiu-se à ditadura companheira como mera "narrativa" de opositores. Dias depois, afirmou numa entrevista que "o conceito de democracia é relativo". Deu no que está dando.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes