Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Matar o tempo à espera de Maduro é cometer suicídio

Até esta segunda-feira, o esforço de Brasil, Colômbia e México para obter uma solução negociada para o caos na Venezuela parecia apenas uma tarefa dura de roer. Ao divulgar uma carta aberta aberta na qual se proclama presidente eleito, Edmundo González, o opositor de Nicolás Maduro, deu aos esforços capitaneados por Lula uma aparência de busca pela quadratura do círculo, eufemismo para tarefa impossível.

A crise venezuelana viajou com Lula para o Chile. Informado sobre os planos do colega brasileiro, o presidente chileno Gabriel Boric, que já disse considerar improvável a autoproclamada reeleição de Maduro, preferiu não comentar. Para complicar, veio à luz também nesta segunda-feira uma outra carta. Nela, 30 ex-presidentes de América Latina e Espanha pedem a Lula que reconheça a vitória da oposição na Venezuela.

Ficaram boiando na atmosfera interrogações incômodas: até quando o Planalto pretende aguardar pelas atas eleitorais que Maduro prometeu divulgar? Quem fará uma inspeção independente do resultado?

À margem dos macroproblemas da Venezuela, há uma questão simples e essencial: Maduro fraudou as urnas e se equipou para mandar prender o antagonista González e a madrinha política dele, María Corina. Enquanto não reconhece a ilegitimidade do processo eleitoral, Lula como que admite tácita e informalmente que Maduro pode ir ficando no cargo depois de janeiro, quando deveria entregar o cargo.

Lula não se animou a repetir em Santiago que não há "nada de grave", "anormal" ou "assustador" na Venezuela. Mas parece claro que falta ao presidente brasileiro traçar um risco no chão, separando sua biografia e o governo do autogolpe de Maduro. Do contrário, se arrisca a descobrir que matar o tempo à espera de Maduro é o mesmo que cometer suicídio político.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes