Josias de Souza

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Em live água com açúcar, Marçal usa Boulos para lavar a imagem

No primeiro turno da campanha municipal, Pablo Marçal vendeu ilusões, debochou da legislação eleitoral, avacalhou os debates, propagou mentiras e achincalhou adversários. Arrematou sua participação com a divulgação do laudo falso que associou Guilherme Boulos ao consumo de cocaína. Fez tudo isso escondido sob a pele de um cordeiro defensor da liberdade de expressão. Não colou. Tornou-se um um lobo que aguarda na fila da Justiça Eleitoral pela sentença de inelegibilidade.

Nesta sexta-feira, antevéspera do tira-teima em que o eleitor escolherá o prefeito que governará São Paulo pelos próximos quatro anos, Boulos devolveu à conjuntura o personagem que o eleitor havia excluído do processo. Numa live água com açúcar, Marçal usou o ex-adversário que o chamara de "bandido" para lavar a própria imagem. A pretexto de obter os votos do desqualificado, Boulos qualificou Marçal como hipotético ator político de futuros embates eleitorais.

Durante mais de uma hora, Marçal dedicou-se a levantar a bola para Boulos cortar. Inspirador de uma cadeirada e um soco, o grotesco disse a certa altura que "o Brasil precisa de diálogo." Absteve-se de defender Bolsonaro e Tarcísio de Freitas dos ataques de Boulos. Mestre da baixaria, ralhou quando o participante de sua inusitada "entrevista de emprego" vinculou Nunes à corrupção: "Vamos manter o nível do que a gente combinou", orientou. Foi atendido.

É improvável que Boulos atraia com a live os votos da direita. Segundo o Datafolha, 83% dos paulistanos que optaram por Marçal declaram que jamais votariam no candidato do PSOL. Mas Marçal atingiu plenamente o seu objetivo. De olho em 2026, disse a certa altura: "Assim como tem Lula e Bolsonaro, acho que vai ter um tal de Guilherme e Pablo nos próximos 30 anos". Naturalizado pelo cordeiro, o lobo da direita disse, com outras palavras, mais ou menos o seguinte: "Em 2024, não consegui. Mas vou devorar a esquerda na próxima esquina."

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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