Caso Carrefour: Quem tem calos não deveria se meter em apertos
A pretexto de adular os agricultores franceses, o CEO Global do Carrefour, Alexandre Bompard, disparou um petardo contra o balanço da companhia que dirige. Numa postagem de rede social, defendeu o "bloqueio" da compra de carnes do Mercosul. Anotou que os países do bloco desrespeitam "exigências e padrões". O chefão do Carrefour revelou-se um franco-atirador tolo, ilógico e saborosamente desastroso.
A tolice decorre do fato de que o Brasil é o segundo mercado mais importante do Carrefour depois da França. Responde por 23% da receita do grupo. A falta de lógica é evidenciada pelo fato de que a carne que se deseja evitar que os franceses consumam é vendida à clientela brasileira do Carrefour.
A manifestação foi desastrosa porque produziu o oposto do que desejava o seu autor. O desastre é saboroso porque ficou ainda mais evidente que o problema não é a qualidade sanitária da carne brasileira, mas o pavor dos fazendeiros franceses de concorrer com o agronegócio do Brasil.
Numa reação em cascata, ergueram barricadas contra o Carrefour os maiores frigoríficos do Brasil, Lula, o ministro Carlos Fávaro (Agricultura) e o presidente da Câmara Arthur Lira. Todos exigem, em coro, uma retratação do CEO da companhia, autoconvertido em bucha de canhão na guerra que a França trava para bloquear o fechamento de um acordo comercial do Mercosul com a União Europeia.
A negociação se arrasta há mais de duas décadas. Será retomada nesta terça-feira. No contexto diplomático, o chefe mundial do Carrefour é apenas um inocente útil. Ou inútil, dependendo do ponto de vista. Sob uma ótica estritamente comercial, monsier Alexandre Bompard descobriu da pior maneira que, nos negócios, como na vida, quem tem calos não deveria se meter em apertos.
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