Josias de Souza

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Opinião

Bolsonaro abre as portas da delação para seus cúmplices

Se Deus intimasse Bolsonaro a optar entre seu espelho e seus cúmplices, ele daria uma resposta fulminante: "Morram os golpistas!". Para Bolsonaro, o amor pelo espelho está acima de tudo. Só o espelho existe para o capitão. O resto que se dane.

Além da possibilidade de fuga, nada ficou mais nítido na entrevista que Bolsonaro concedeu ao UOL do que o desprezo pelos irmãos sujos da família militar. A deslealdade salta de dois trechos da conversa. Num, Bolsonaro lavou as mãos. Noutro, jogou o sabonete sob os pés de um general palaciano.

Alegou desconhecer o capítulo da trama que previa assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. "Que plano era esse? [...] Que loucura é essa? Ali, no prédio da Presidência, trabalham mais ou menos 500 pessoas. E eu sei o que cada um tá fazendo?"

No trecho em que arremessou o sabonete, Bolsonaro classificou de "papo de quem tem minhoca na cabeça" o plano "Punhal Verde Amarelo". A Polícia Federal mostrou que foi impresso no Planalto pelo general palaciano Mário Fernandes e exibido a chefe da organização criminosa no Alvorada.

O tenente-coronel Mauro Cid passou a colaborar com a PF quando notou que as versões de Bolsonaro, por mais desconexas, convergem para um mesmo ponto: a corda é sempre enrolada num pescoço que está ao lado.

Além de escancarar as portas para o surgimento de novas delações, Bolsonaro mostrou que continua odiando a realidade. Demora a se dar conta de que a realidade é o único lugar onde poderia arranjar uma defesa decente. Cercado de provas, reduziu a tentativa de golpe a uma conversa inocente sobre "artigos da Constituição". Seu caso já não é apenas de algemas, mas de camisa de força.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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