'Sonho americano' é a primeira grande vítima de Donald Trump

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Em duas semanas, Trump falou em anexar o Canadá, ocupar a Groenlândia e retomar o Canal do Panamá. Sustenta agora que os Estados Unidos assumirão a Faixa de Gaza, erguendo às margens do Mediterrâneo uma "Riviera do Oriente Médio". Sem palestinos. O que virá na sequência? É preciso raciocinar com hipóteses. Das mais amplas às mais específicas.
A melhor das hipóteses é que o mundo consiga reagir adequadamente contra a insanidade que se reinstalou em Washington. A pior das hipóteses é que Trump se sinta estimulado a levar suas alucinações às fronteiras do paroxismo, anunciando que, depois de mobilizar construtores americanos para instalar resorts em Gaza, arrendará a sede da ONU, em Nova York, à rede de hotéis Hilton.
A conversão da resposta de Israel ao ataque terrorista do Hamas numa carnificina coletiva de Netanyahu em Gaza já havia realçado a irrelevância das Nações Unidas. A limpeza étnica sugerida por Trump aniquilaria definitivamente aquela bela intenção que começou com a Liga das Nações, depois da matança da Primeira Guerra Mundial, de construir uma comunidade internacional gerida para a paz e o entendimento.
Trump leva longe demais a estratégia batizada por seu antigo estrategista Steve Bannon de "flood the zone with shit". Numa tradução livre, significa inundar a área com merda. Na linguagem de esgoto do trumpismo consiste em impregnar a conjuntura de confusão e desinformação para dificultar a capacidade das pessoas de discernir a verdade em meio ao caos.
Entre um absurdo e outro, Trump tenta fazer crer que o inacreditável da véspera é mais palatável do que o abominável do dia seguinte. Em meio ao pântano de excrementos, corre-se o risco de perder a noção de que uma consciência comum de humanidade está sendo substituída pela truculência de um nacionalista tosco. O sonho americano, que cambaleava há anos, tornou-se a primeira vítima de Trump. A ideia de uma América grande de novo cabe numa caixa de fósforo.
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