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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Saidinha temporária de sequestradores de Washington Olivetto já tem 10 anos

9.jul.2021 - Willian Gaona Becerra (à esquerda na imagem) e Marco Rodolfo Rodrigues Ortega, sequestradores do publicitário Washington Olivetto, em fotos de arquivo da Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil de São Paulo
9.jul.2021 - Willian Gaona Becerra (à esquerda na imagem) e Marco Rodolfo Rodrigues Ortega, sequestradores do publicitário Washington Olivetto, em fotos de arquivo da Polícia Civil Imagem: Divulgação/Polícia Civil de São Paulo

Colunista do UOL

10/07/2021 04h00

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Há 10 anos as fotos e as qualificações do colombiano Willian Gaona Becerra, 50, e do chileno Marco Rodolfo Rodrigues Ortega, 48, sequestradores do publicitário Washington Olivetto, constam na lista dos criminosos mais procurados da Polícia Civil de São Paulo.

Em 11 de outubro de 2010, ambos deixaram, pela porta da frente, a Penitenciária de Itaí (SP), onde cumpriam pena em regime semiaberto. Nenhum dos dois tinha família, filhos ou outros parentes no Brasil. Mas foram beneficiados com a saidinha temporária do Dia das Crianças.

A LEP (Lei de Execução Penal) prevê cinco saídas temporárias no ano para os presos em regime semiaberto com bom comportamento e que já cumpriram um sexto da pena, no caso dos primários, e um quarto, no caso de reincidentes. Os beneficiados podem deixar a prisão no Natal/Ano-Novo, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia das Crianças ou Finados.

Becerra e Ortega eram considerados pelas autoridades carcerárias como presos com bom comportamento e, por isso, tiveram direito ao benefício. Os dois deveriam retornar ao presídio às 13h do dia 18 de outubro de 2010. Porém, nunca mais voltaram e passaram a ser considerados evadidos.

Desde então, policiais civis, militares e federais de São Paulo jamais tiveram pista dos sequestradores. As suspeitas são de que ambos deixaram o Brasil. O colombiano e o chileno foram condenados a 30 anos pelo sequestro de Washington Olivetto, mas ficaram atrás das grades oito anos e oito meses.

Eles foram presos em 1º de fevereiro de 2002, na cidade de Serra Negra (SP). O líder da quadrilha, o chileno Maurício Hernandez Norambuena, acabou detido com eles e também foi condenado a 30 anos. Logo depois da prisão, o cativeiro de Olivetto foi estourado na zona sul de São Paulo.

O publicitário havia sido sequestrado em 11 de dezembro de 2001. Ele foi levado para uma casa no Brooklin e ficou 53 dias em poder de outros sequestradores do bando. Os criminosos eram profissionais e tinham até treinamento de guerrilha.

Segundo a Polícia Civil, Norambuena foi guerrilheiro e comandante da FPMR (Frente Patriótica Manoel Rodriguez), uma organização considerada braço armado do Partido Comunista Chileno e fundada em 1983 durante a ditadura do general Augusto Pinochet.

Norambuena foi extraditado para o Chile em 20 de agosto de 2019. Em São Paulo, o chileno cumpriu pena lado a lado com líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, Paulo César Souza Nascimento Júnior, o Paulinho Neblina, entre outros, no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes.

O foragido Ortega também foi apontado como guerrilheiro. A Polícia Civil informou na época da prisão que o sequestrador era ligado ao MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária), organização política chilena criada em 15 de agosto de 1965.

A Penitenciária de Itaí, onde Ortega e Becerra cumpriram parte de suas penas, é destinada a prisioneiros estrangeiros. A unidade tem uma ala para condenados em regime fechado e outra de regime semiaberto. O presídio abriga presos de 90 nacionalidades e, por isso, é chamada de "Torre de Babel".

A evasão do chileno e do colombiano teve repercussão internacional. Nos bastidores do sistema prisional paulista, agentes penitenciários comentam com ironia que a saidinha temporária de Ortega e Becerra da prisão é a mais longa da história em São Paulo.