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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Justiça Militar de SP decreta perda de posto e patente de capitão da Rota

Folhapress
Imagem: Folhapress

Colunista do UOL

27/10/2021 11h41

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Elogiado por superiores quando atuava na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, o capitão Douglas Takahashi, 41, sofreu um duro golpe no Tribunal de Justiça Militar.

O relator do Conselho de Justificação do TJM, o juiz Orlando Eduardo Geraldi, decretou a perda do posto e da patente de Takahashi e também o declarou como indigno de permanecer nos quadros do oficialato da Polícia Militar do Estado de São Paulo. A decisão do TJM foi unânime.

O magistrado determinou ainda a cassação de medalhas, láureas e condecorações eventualmente outorgadas ao capitão e ordenou que a súmula da decisão judicial seja anexada ao prontuário funcional dele.

Operação Proteína

Takahashi foi preso em 7 de julho de 2017, durante a Operação Proteína, deflagrada pela Polícia Federal em cinco estados contra uma quadrilha especializada em comercializar anabolizantes e outras drogas.

Dos 30 presos, seis eram policiais civis, dois federais e dois militares. Segundo investigações da PF, os acusados movimentavam R$ 2 milhões por mês e contrabandearam inclusive armas e munição do Paraguai.

No dia 27 de abril de 2018, o capitão foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão por associação à organização criminosa e à perda do cargo público, pelo juiz Fernando Toledo Carneiro, da 7ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Até o ano passado, cumpria pena em prisão domiciliar.

A coluna entrou em contato com o advogado de Douglas Takahashi, mas não obteve retorno. Assim que tiver um posicionamento, a versão da defesa do acusado será publicada.

No entendimento do juiz Geraldi, do TJM, as investigações revelaram que o capitão praticou transgressões disciplinares de natureza grave, desonrosa, incompatíveis com a função militar e atentatórias à instituição, ao Estado e aos direitos humanos fundamentais.

Em 23 de junho de 2017, agentes federais invadiram o apartamento de Takahashi. Foram apreendidas 3.219 unidades de anabolizantes proibidos e R$ 219.241. Os policiais encontraram também um carregador de pistola calibre 40, com numeração raspada, guardado no veículo dele, estacionado na garagem do edifício no bairro do Jabaquara, zona sul.

Os agentes não o prenderam e apenas cumpriram mandados de busca e apreensão. Takahashi ficou surpreso. Segundo policiais, ele já dava como certa sua detenção e havia arrumado a mala com roupas para levar para o Presídio Militar Romão Gomes, na Água Fria, zona norte.

As investigações apontaram que na noite de 23 de junho e no início da tarde do dia seguinte, ele ligou do telefone celular para um policial militar não identificado. Takahashi não sabia que seu aparelho havia sido grampeado com autorização da Justiça Federal.

Diálogos interceptados

Em um dos diálogos, interceptado às 21h52, o capitão comenta com o amigo: "Que sorte eu dei. Cheguei até a preparar minha mala para levar ao presídio". A outra ligação, feita para a mesma pessoa, foi monitorada às 12h59 de 24 de junho.

O capitão, demonstrando muita preocupação, com a situação, disse para o amigo: "Mano, acharam o carregador raspado, da pistola 40, no carro. Se eles jogarem ácido em cima da numeração e se berrar (identificar), aí vai dar inquérito, né", prevê o PM.

Na continuação do diálogo, Takahashi afirma que tentará falar e negociar com o responsável pela perícia no carregador apreendido: "Vou tentar entrar em contato com a perícia para tornar o laudo inconclusivo. Se ficar inconclusivo, já é mil grau".

Ele explica para o interlocutor que em sua defesa, para justificar a posse dos anabolizantes, iria alegar que é treze compulsivo (na linguagem policial, treze significa pessoas com transtornos psicológicos).

Em outro trecho acrescenta que os federais apreenderam o dinheiro que era de policiais. E completa: "Vou trocar de telefone celular. Esse número vai sair do ar". Antes de encerrar o diálogo, Takahashi faz outra revelação comprometedora.

Ele diz que quando os federais bateram na porta do apartamento e gritaram para abrir que era a polícia, ele alega que também é polícia e pede para um deles passar o mandado de busca e apreensão por debaixo da porta.

Afirma ainda que faltou pouco para os agentes derrubarem a porta e, segundo a PF, dá a entender no diálogo interceptado que teve tempo para eliminar provas consideradas importantes às investigações e conseguiu dispensar algo ilícito que guardava no apartamento.

Durante sua atuação na Rota, Takahashi participou de ações polêmicas contra integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital). Oficiais superiores o elogiaram. Um dos elogios foi gravado em vídeo pelo cineasta Elias Júnior, que já fez vários filmes sobre o batalhão.