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PCC paga até hoje "pensão vitalícia" para assassinos de juiz-corregedor
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Fontes policiais que investigam o crime organizado garantem: O PCC (Primeiro Comando da Capital) paga até hoje uma espécie de "pensão vitalícia" para os assassinos do juiz-corregedor de Presidente Prudente, Antônio José Machado Dias, morto a tiros em 14 de março de 2003.
O pagamento da "mesada" foi divulgado em primeira mão em reportagem publicada pelo jornal Agora São Paulo na edição de 28 de novembro de 2013, após denúncia feita ao MP-SP (Ministério Público Estadual) por um presidiário, ex-integrante do PCC.
Planilhas de contabilidade apreendidas com faccionados na década passada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), subordinado ao MP-SP, também comprovaram a veracidade da informação do prisioneiro.
Na época, a "pensão vitalícia" era de R$ 5 mil mensais. Policiais civis ouvidos pela coluna, na condição de anonimato, revelaram que esse valor é pago até hoje e serve como ajuda de custo às famílias dos assassinos e também para custear eventuais despesas arcadas por eles na prisão.
Segundo investigações, o plano do PCC para matar o magistrado, responsável por cuidar dos processos de execução criminal dos chefes da maior facção criminosa do país, recolhidos à época em penitenciárias na região Oeste do Estado, começou a ser traçado no início de 2003.
Terno era disfarce
Um terno foi o disfarce usado em março daquele ano por Adilson Daghia, 52, o Ferrugem, para entrar no fórum de Presidente Prudente (SP) - como se fosse advogado - e observar a rotina do juiz-corregedor Antônio José Machado Dias, sem levantar suspeitas.
Ferrugem, sempre em trajes sociais, foi ao fórum várias vezes na primeira quinzena de março. Ele localizou e identificou Machadinho, como o juiz era conhecido, pela placa com o nome do magistrado fixada na porta do gabinete dele.
O corregedor chegou a ser seguido até a casa dele. Ferrugem e os comparsas traçaram o trajeto que o magistrado fazia a bordo de um Vectra. Os integrantes do PCC também descobriram que o juiz, às sextas-feiras, tinha o hábito de deixar o fórum às 18h, sem escolta.
O PCC escolheu a data de 14 de março de 2003, uma sexta, para pôr o plano em prática. A facção providenciou um Uno branco, clonado, para ser utilizado no crime. As placas de São Paulo, do veículo, foram substituídas pelas de Presidente Prudente. A troca foi feita em uma borracharia da cidade.
Por volta das 18h, o Vectra de Machadinho foi interceptado pelo Uno pilotado por Ferrugem nas imediações do fórum. Reinaldo Teixeira dos Santos, 43, o Funchal, desceu do veículo clonado e, armado de pistola 9mm, atirou e matou o juiz-corregedor.
Liberados em posto policial
A dupla era esperada por outro comparsa. Ronaldo Dias, 44, o Chocolate, os aguardava ali perto em um Gol branco. O automóvel ocupado com os assassinos saiu em alta velocidade em direção à Rodovia Raposo Tavares. No acesso à Rodovia Castello Branco, o carro foi abordado em um posto policial.
Funchal escondia a pistola 9mm entre as pernas. Um policial militar pediu os documentos do Gol e a carteira de habilitação para Chocolate. Os três assassinos do juiz-corregedor ficaram durante 20 minutos dentro do carro no posto policial. A documentação estava em ordem e eles foram liberados.
Os criminosos seguiram até Sorocaba (SP), onde João Carlos Rangel Luíse, o Jonny, acusado de providenciar o Uno clonado, aguardava Funchal. Chocolate e Ferrugem seguiram viagem para São Paulo e foram se esconder, a princípio, na Favela do Vietnã, na zona sul de São Paulo.
Nos presídios dominados pelo PCC, milhares de prisioneiros comemoraram o cruel assassinato do corregedor. Segundo a Polícia Civil, autores do crime participaram de churrasco em uma comunidade na capital paulista no dia seguinte ao homicídio para festejar o sucesso da emboscada.
Bilhete do PCC
A morte do corregedor teve repercussão mundial e a prisão dos envolvidos no assassinato era questão de honra para a polícia. Uma importante pista para esclarecer o crime veio da Penitenciária de Avaré (SP), onde estava recolhida a alta cúpula do PCC.
Um bilhete escrito na cela um dia após o homicídio pelo preso Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue - assassinado em fevereiro de 2018 pela próprio PCC no Ceará - apontava a facção criminosa como mandante da morte do magistrado.
Um agente penitenciário apreendeu o papel e passou o teor da mensagem com exclusividade para um repórter do Diário de S. Paulo.
Segundo o MPE-SP, o bilhete tinha como destino a cela de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, e comunicava a morte do juiz.
Tempos depois, a Polícia Civil identificou e prendeu os acusados de envolvimento no crime. Funchal foi condenado a 66 anos de prisão, Ferrugem a 52 anos, Chocolate a 47 anos e Jonny a 18 anos. A pena para Marcola e Júlio César Guedes de Moraes, o Carambola, foi de 29 anos cada.
Defensores dos réus sempre afirmaram que os clientes jamais integraram o PCC e que nunca receberam "mesada" da facção criminosa. Marcola e Julinho Carambola também alegaram em depoimentos judiciais que não são do crime organizado e que não foram mandantes da morte do magistrado.
As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.
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