Topo

Josmar Jozino

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

De tênis caros a um par de chinelos: a nova realidade de Marcola na prisão

Líder do PCC, Marcola é transferido para presídio federal em Rondônia - Reprodoção/Twitter
Líder do PCC, Marcola é transferido para presídio federal em Rondônia Imagem: Reprodoção/Twitter

Colunista do UOL

04/03/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Nos presídios de São Paulo, como Araraquara, Avaré e Presidente Venceslau, o preso Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, 54, apontado como líder máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital), chegou a ter dezenas de pares de tênis importados e caríssimos na cela.

No início da tarde de ontem, quando foi transferido da Penitenciária Federal de Brasília para Porto Velho, Marcola só carregava as algemas nos pulsos, usava a roupa do corpo e um par de chinelos. Ele foi filmado desembarcando de um avião na capital de Rondônia, sob forte aparato policial.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, publicou em seu perfil do Twiter um vídeo com parte de imagens da ação de transferência do prisioneiro. Marcola aparece cercado por policiais federais armados com fuzis. Ele estava algemado e usava calça e camisa azuis. Um agente o segurava por um cinto.

O presidiário foi colocado em um furgão e conduzido sob escolta até a penitenciária federal de Porto Velho. Essa é a segunda passagem de Marcola pela unidade. A primeira foi em fevereiro de 2019, quando foi removido da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP).

Segundo agentes penitenciários, Marcola sempre foi vaidoso e em boa parte das prisões paulistas por onde passou e cumpriu pena gostava de ostentar e de usar camisetas e bermudas de grife, além de pares de tênis de última geração.

Supostos maus-tratos

Para pessoas próximas a Marcola, a remoção dele, mesmo para outro presídio federal, veio em boa hora porque as notícias de maus-tratos na Penitenciária de Brasília são corriqueiras. As maiores queixas são falta de assistência médica, péssima alimentação e constrangimento às visitas.

Segundo a defesa de Marcola, o preso tem sérios problemas gastrointestinais e na Penitenciária Federal de Brasília aguardava desde 2020 a realização de exame de colonoscopia. Segundo os advogados foram feitos inúmeros pedidos ao juiz-corregedor da 15ª Vara Federal de Brasília.

Defensores de Marcola disseram à reportagem que a "transferência dele para Porto Velho não atende aos direitos do sentenciado e prejudicará ainda mais a assistência à saúde do preso, já negligenciada em Brasília".

O Depen (Departamento Penitenciário Nacional), responsável pela administração dos presídios federais, informou em nota que os dados sobre a saúde dos presos são sigilosos. Em relação às roupas e calçados, a nota diz que os custodiados recebem bermuda, calça, camiseta e blusa de inverno, chinelo e tênis, além de materiais de higiene pessoal e roupa de cama.

Protesto e correntes

Quem também está insatisfeito com a Penitenciária Federal de Brasília é o preso Paulo César Souza Nascimento Júnior, 48, o Paulinho Neblina. A advogada do preso, Michelle Daiane Guimarães, diz que o custodiado está há 26 dias em greve de fome.

Segundo a defensora, o preso quer ser ouvido pelo juiz-corregedor da Penitenciária Federal de Brasília. O prisioneiro pretende relatar que é portador da Síndrome de Crohn, doença intestinal degenerativa, e não recebe alimentação necessária.

Paulo Neblina gostaria de reclamar que sofreu agressão no dia 5 de fevereiro, quando foi retirado da cela por uma agente penitenciária e sofreu lesões nos pulsos provocadas pelo uso indevido de algemas. Quer se queixar também que páginas de um livro que está escrevendo foram confiscadas por agentes.

Na tarde desta quinta-feira (3), a mãe de Neblina, Eunice Ferreira de Moraes Ribeiro da Silva, e a advogada Michelle Guimarães fizeram protesto em frente ao prédio da Justiça Federal de Brasília, onde ameaçaram se acorrentar, caso não fossem atendidas pelo juiz-corregedor do presídio. A família pede a remoção do preso para unidade estadual fora de São Paulo.

eunice - Divulgação - Divulgação
Eunice Ferreira de Moraes Ribeiro da Silva, mãe de detento em um presídio federal
Imagem: Divulgação

A denúncia de agressão contra Paulo Neblina foi publicada nesta coluna no último dia 22. Procurado pela reportagem, o Depen disse que foi aberto processo de apuração e, caso seja identificado desvio de conduta nos procedimentos, as medidas correcionais cabíveis serão tomadas.

Em relação à alimentação do preso, o Depen informou que nas unidades federais, as refeições são entregues seis vezes ao dia, e são balanceadas de acordo com as necessidades nutricionais dos presos, visando a manutenção da saúde de todos.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.