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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Agente de penitenciária ajudou o PCC a planejar fuga e rebelião em SP

Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, o primeiro presidiário batizado no PCC - Reprodução
Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, o primeiro presidiário batizado no PCC Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

18/05/2022 05h10

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A agente da calcinha vermelha trabalhava na Penitenciária do Estado, no Carandiru, zona norte de São Paulo. E era uma funcionária considerada pela direção do presídio acima de qualquer suspeita. Mas isso até ser seduzida por um preso idealizador da criação do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Corria o ano de 1999. Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, tinha dois planos em mente. Um era fugir da Penitenciária do Estado. O outro era comandar, mesmo da rua, uma rebelião e a destruição total da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté.

O presídio, localizado no Vale do Paraíba (SP) foi o berço do PCC. Os presos chamavam a unidade de "campo de concentração" e "caverna" por causa dos maus-tratos. Sombra e seus comparsas queriam "deixar a prisão no chão", derrubar tijolo por tijolo. O estatuto do PCC pregava essa destruição.

Galanteador e bom de conversa, Sombra conquistou a confiança e o coração da agente da Penitenciária do Estado para colocar em prática seu primeiro plano.

Intimidade

A funcionária foi literalmente seduzida por ele. Ela se sentiu muito desejada e nos plantões não deixava de ir à cela dele.

A intimidade dos dois era visível, pelo menos para os presos. Sombra colocava notas de dinheiro entre os seios dela. Em um dos plantões, a agente penitenciária foi à cela dele usando um sutiã de oncinha e uma calcinha vermelha.

Ao mesmo tempo em que Sombra seduzia a agente na prisão, os parceiros dele, nas ruas, realizavam um roubo cinematográfico. Na madrugada de 5 de julho de 1999, os ladrões invadiram o Banespa da rua João Brícola, no centro de São Paulo, e levaram R$ 32,5 milhões.

Foi o maior roubo a banco da história de São Paulo. Um vigilante da agência visitou um primo na Penitenciária do Estado e forneceu a Sombra e seus comparsas as plantas do prédio para a entrada e a fuga da quadrilha. E ainda informou o número de seguranças e o volume de dinheiro nos cofres.

Era a quarta vez que Sombra havia sido removido da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. Ele ordenou aos comparsas para que entregassem R$ 40 mil à agente penitenciária. O dinheiro seria usado na compra de oito armas.

A funcionária iria facilitar a entrada do armamento na unidade e a também a fuga de seu sedutor. O plano foi descoberto e as armas apreendidas. Como castigo, Sombra foi mandado para Taubaté, também chamada de "Piranhão", pela quinta vez. A agente da calcinha vermelha não foi identificada.

O primeiro plano de Sombra foi por água baixo. Mas o segundo foi bem sucedido. Os R$ 40 mil entregues à agente da calcinha vermelha também foram usados na compra de outras três armas.

Elas foram entregues aos presos na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, graças à ajuda de outro funcionário corrupto, e possibilitaram aos detentos a realização de uma rebelião sangrenta e a destruição do presídio, a ponto de provocar a sua desativação temporária.

Era 17 de dezembro de 2000, dia de festa de Natal na unidade prisional. A rebelião começou de manhã. Jonas Matheus e Orlando Motta Júnior, o Macarrão, com armas em punho, renderam os funcionários e abriram as celas dos integrantes do PCC e também as dos inimigos

Nove presos foram assassinados a golpes de facões e estiletes. Um deles, Antônio Carlos dos Santos, o Bicho Feio, era um dos oito presos que fundaram o PCC na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. Mas ele era inimigo mortal de Sombra.

Bicho Feio foi degolado. Os inimigos jogaram bola com a cabeça dele e depois a arremessaram em direção à juíza-corregedora Sueli Zeraik de Oliveira Armani.

Sombra cumpriu sua promessa. Ajudou a destruir o "campo de concentração" de Taubaté.