Topo

Josmar Jozino

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Chefe do PCC é dono de 56 ônibus de empresa na zona leste de SP

Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, integrante do PCC - Reprodução
Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, integrante do PCC Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

07/06/2022 04h00Atualizada em 07/06/2022 10h49

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Foragido da Justiça, Silvio Luiz Ferreira, 44, o Cebola, um dos principais integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) ainda em liberdade, é apontado pela polícia como dono de ao menos 56 ônibus da UPBUS Qualidade em Transportes S/A, sediada no bairro do Limoeiro, na zona leste paulistana.

A companhia, alvo de mandado de busca e apreensão judicial na semana passada, é originária de uma cooperativa de transporte complementar. Foi no mesmo endereço que Cebola foi flagrado por policiais militares com quase meia tonelada de maconha no início de junho de 2012.

A UPBUS foi alvo de uma operação do Denarc (Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcótico) de São Paulo, na última quinta-feira. Segundo a Polícia Civil, a empresa era de Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, um dos maiores fornecedores de drogas e armas do PCC, e de outros comparsas dele, todos integrantes da facção criminosa.

Cara Preta foi assassinado a tiros em dezembro do ano passado, no Tatuapé, zona leste paulistana, junto com o sócio e motorista Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue. Noé Alves Schaum, 42, acusado de matar ambos, foi assassinado no mês seguinte pelo "tribunal do crime" do PCC.

Mais sócios do PCC

Dias depois foi assassinado na Vila Matilde, zona leste, Cláudio Marcos de Almeida, 50, o Django. Segundo o Denarc, Django, Cebola, Cara Preta, e Décio Gouveia Luiz, 53, o Décio Português, recolhido em presídio federal, todos do alto escalão do PCC, além de seus respectivos parentes, aparecem como acionistas da UPBUS.

Investigações conduzidas pelo delegado Fernando Santiago, do Denarc, apontam que Cara Preta adquiriu cotas da UPBUS em nome do pai, da irmã e de um primo dele. Parentes dos demais sócios integrantes do PCC têm ações milionárias. O capital inicial era de R$ 1 milhão e passou para R$ 20 milhões.

Django investiu em nome dele R$ 1.236.000,00 em ações da UPBUs. Parentes de Décio Português investiram R$ 618 mil; familiares de Cebola, R$ 247 mil e outro sócio identificado como Alexandre Salles Brito, 41, o Xandi ou Buiu, processado por tráfico de drogas, R$ 123 mil e uma parente dele mais R$ 247 mil.

A empresa opera 13 linhas de ônibus na zona leste e fechou contrato com a Prefeitura Municipal de São Paulo, através de licitação pública, no valor de R$ 574 milhões por ano. Os sócios e acionistas da empresa são investigados por lavagem de dinheiro.

Fontes policiais disseram à coluna que apenas Cebola é dono de 56 ônibus da empresa. Ele usava os nomes falsos de Rodrigo Martins Santana e Márcio Barbosa Santos. A Polícia Civil não sabe quantos veículos os demais sócios do PCC possuem na UPBUS. A companhia tem mais de 200 ônibus.

A UPBUS fica no mesmo local onde funcionava, em meados da década passada, a Cooperativa de Ônibus Associação Paulistana dos Condutores de Transporte Complementar. Cebola acabou preso lá em 2 de junho de 2012 com 480 kg de maconha e R$ 150 mil em espécie.

A garagem 2 da Associação Paulistana deu origem à Qualibus, que hoje se chama UPBUS. O Denarc já sabe que Cara Preta, Cebola, Django e Décio Português eram sócios dessas empresas, constituídas em nomes de laranjas, desde a década passada. Todos eles também eram apontados como donos do tráfico de drogas na Favela Caixa D'Água, na zona leste.

Preso pela Rota

A prisão de Cebola foi efetuada pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite da Polícia Militar. De acordo com os PMs, Cebola escondia os 480 kg de maconha em um veículo estacionado na garagem da cooperativa, além dos R$ 150 mil. Ao todo foram presas oito pessoas.

Cebola foi levado para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), um dos mais fortes redutos do PCC. Ele permaneceu lado a lado com integrantes da cúpula da facção criminosa até o dia 31 de março de 2014, quando saiu em liberdade por meio de alvará de soltura expedido pela Justiça.

Em 9 de outubro de 2014, o juiz José Fernandes Freitas Neto, da 6ª Vara Criminal da Capital, condenou Cebola a 14 anos e 3 meses em regime fechado. O criminoso, no entanto, já havia sido solto e até hoje não foi localizado. Os demais réus no mesmo processo também foram condenados.

Cebola e outros 17 réus são investigados em outro processo por lavagem de dinheiro e associação à organização criminosa. Eles são acusados de movimentar R$ 1 bilhão do PCC no período de janeiro de 2018 a julho de 2019, arrecadados com o tráfico de drogas.

Os 18 réus foram denunciados à Justiça pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, após deflagração da Operação Sharks, em setembro de 2020. As investigações foram feitas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado). Cebola teve a prisão preventiva decretada.

O Gaeco acredita que Cebola é uma das lideranças mais fortes do PCC em liberdade, ao lado de Patric Velinton Salomão, 41, o Forjado, e Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí.

O número 1 da facção nas ruas era Marcos Roberto de Almeida, 52, o Tuta, mas, segundo as autoridades, ele foi excluído da organização e não há notícias se está vivo ou morto.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.