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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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PF apura pagamento de propina a policiais acusados de desviar drogas do PCC

Cocaína apreendida pela Polícia Civil em abril em Cubatão, na Baixada Santista - Divulgação/Polícia Civil de SP
Cocaína apreendida pela Polícia Civil em abril em Cubatão, na Baixada Santista Imagem: Divulgação/Polícia Civil de SP

Colunista do UOL

19/09/2022 04h00

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Email inválido

Mensagens no telefone celular de um advogado preso por agentes federais em Santos na última sexta-feira (16) mencionam o envolvimento de policiais civis da Baixada Santista em um esquema de desvio de cocaína e recebimento de propina de traficantes de drogas do crime organizado. A Polícia Federal acompanha o caso.

O advogado é investigado por associação à organização criminosa. Ele teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Roberto Lemos dos Santos Filho, da 5ª Vara Federal de Santos. O telefone celular do preso foi apreendido durante o cumprimento de mandado de busca.

Segundo a Polícia Federal, a análise do terminal do aparelho do advogado identificou diversas conversas mantidas por aplicativos de mensagens entre o criminalista e o cliente dele, preso também pela PF, no mês passado, na Baixada Santista, e acusado por tráfico internacional de drogas.

Nas mensagens trocadas entre o defensor e o cliente, ambos falam de uma apreensão de cocaína realizada por policiais civis de Santos em 26 de abril de 2022, na cidade de Cubatão. Na ocasião, três homens — de 33, 41 e 43 anos — acabaram presos e com eles os investigadores disseram ter apreendido 26 kg da droga.

Junto com a cocaína foram apreendidos 49 lacres usados em contêineres. A droga seria escondida em meio a uma carga lícita de chicletes, balas e pirulitos e seguiria para a Europa em navio, via porto de Santos.

O narcotraficante diz ao advogado, em um dos diálogos, que os policiais civis ficaram com 90% da droga e explica que tem provas do desvio, acrescentando que dois drones e uma câmera Go Pro usados pelos comparsas da quadrilha filmaram a ação policial.

O advogado então afirma que o delegado responsável pela apreensão é seu "amigão" e revela que irá no departamento dele para conversar com toda a equipe policial envolvida no caso. Segundo a análise da PF, o narcotraficante responde e diz que irá mandar o dinheiro para corromper os policiais.

Dois dias depois, o advogado envia outra mensagem para o narcotraficante informando que entregou R$ 40 mil aos policiais, que somados a mais R$ 44 mil levados por outro criminalista totalizariam R$ 84 mil, mas que ainda faltavam R$ 16 mil.

O narcotraficante diz que pagará o restante da propina e reclama que teve um prejuízo de R$ 4 milhões com o desvio da cocaína e que teria de acertar a dívida com o "comando". Para a Polícia Federal, "comando" é o PCC (Primeiro Comando da Capital) e a droga desviada era da facção criminosa.

Mais propina

Na mesma troca de mensagens, o advogado cita que além da propina exigida, os policiais civis da Baixada Santista também pediram "um café", ou seja, mais dinheiro num prazo de 60 dias. O narcotraficante promete atender à exigência.

O advogado finaliza informando que necessitaria de mais R$ 200 mil, dessa vez para pagar policiais civis da capital paulista, "referentes a outro episódio de traficância".

Nas mensagens, o advogado e o narcotraficante não mencionam os nomes dos policiais civis acusados pelo desvio de cocaína e recebimento de propina. Ambos citam apenas os departamentos onde os agentes trabalham. Um deles fica em santos e outro na zona norte paulistana.

O narcotraficante preso pela PF foi transferido para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, um dos mais fortes redutos do PCC no sistema carcerária de São Paulo. Ele também é investigado pelo crime de lavagem de dinheiro.

Já o criminalista foi levado para um CDP (Centro de Detenção Provisória) na Grande São Paulo, onde está recolhido em uma sala destinada a advogados. A Polícia Federal investiga se era ele quem fazia a lavagem de dinheiro do cliente preso.