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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Chefe do 'escritório do crime' do PCC no Paraguai é condenado a 30 anos

Anderson Meneses de Paula, o Tuca, acusado de ser chefe do "escritório do crime" do PCC no Paraguai - Reprodução/Senad do Paraguai
Anderson Meneses de Paula, o Tuca, acusado de ser chefe do "escritório do crime" do PCC no Paraguai Imagem: Reprodução/Senad do Paraguai

Colunista do UOL

15/09/2022 04h00Atualizada em 17/09/2022 13h13

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A Justiça Federal condenou oito integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) acusados de montar um "escritório do crime" nas cidades gêmeas de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, para comandar o tráfico de drogas e armas na fronteira dos dois países.

A decisão é do juiz Ricardo Duarte Ferreira Figueira, da 1ª Vara Federal de Ponta Porã. Os réus foram acusados por tráfico internacional de drogas e associação à organização criminosa. As penas impostas aos integrantes do PCC variam de 17 anos e 6 meses a 30 anos de prisão em regime fechado.

A Polícia Federal começou a investigar a quadrilha em março de 2021, quando 13 integrantes do PCC — 8 paraguaios e 5 brasileiros — foram presos em um lava jato em Pedro Juan Caballero. Com eles foram apreendidos 11 veículos, 6 fuzis, farta munição e coletes à prova de bala.

Na ocasião, agentes federais apontaram como líder do bando e do PCC na região fronteiriça Wesley Neres dos Santos, o Bebezão. Outros dois detidos, o brasileiro Willian Meira do Nascimento, o Bruxo, e o paraguaio Alfredo Gimenez Larrea, acabaram soltos.

Ambos, no entanto, passaram a ser monitorados por policiais federais e tiveram as ligações telefônicas interceptadas com autorização judicial. Os agentes descobriram que, com a prisão de Bebezão, o PCC arrumou um novo substituto para liderar os "negócios" da facção na fronteira Brasil-Paraguai.

As investigações da PF apontaram que o escolhido foi Anderson Meneses de Paula, o Tuca. Agentes da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai seguiram os passos dele e apuraram que o novo líder do PCC ingressou naquele país em 26 de setembro de 2021.

Segundo a Polícia Federal, quase um mês antes de ir para o Paraguai, Anderson participou do ataque com explosivos a três agências bancárias em Araçatuba (SP). O assalto aconteceu na madrugada de 30 de agosto de 2021. Os ladrões causaram pânico à população, mataram duas pessoas e fugiram levando R$ 2 milhões. A meta dos criminosos era roubar R$ 90 milhões.

No Paraguai, os policiais da Senad fotografaram Anderson com um fuzil em Pedro Juan Caballero. Ele foi morar com a mulher Francisca Kelly Lima da Silva em uma casa no bairro Jardim Universitário, na cidade de Ponta Porã.

Imagens feitas pela polícia paraguaia de Anderson Meneses de Paula com um fuzil em Pedro Juan Caballero - Reprodução/Senad do Paraguai - Reprodução/Senad do Paraguai
Imagens feitas pela polícia paraguaia de Anderson Meneses de Paula com um fuzil em Pedro Juan Caballero
Imagem: Reprodução/Senad do Paraguai

Pena maior para o líder

Em 3 de outubro do ano passado, a Polícia Federal deflagrou a operação "Escritório do crime" e cumpriu em Ponta Porã oito mandados de busca e apreensão, além dos mandados de prisão. Foram apreendidos valores, outros bens e munição de grosso calibre. Anderson era o alvo principal da ação.

No final da semana passada, o juiz federal Ricardo Duarte Ferreira Figueira condenou os réus. Anderson, apontado como o líder do PCC na região, recebeu a maior pena, de 30 anos, assim como seu comparsa José Luís Martins Júnior.

A condenação deles foi maior porque ambos acabaram flagrados com armas. Alfredo Larrea, Francisco Alfonso e Elvis Henrique Gimenez Riquelme foram condenados a 27 anos e seis meses; Willian, a 20 anos; Francisca, mulher de Anderson, e Alice Lorena Rodrigues Ortiz, a 17 anos e seis meses.

No entendimento do juiz, os réus pertencem ao PCC, "uma organização criminosa de projeções nacional e internacional, com imenso aparato bélico e econômico-financeiro, que envolve milhares de integrantes, numa escala genuinamente empresarial".

Por determinação do juiz Ricardo Figueira, a ré Aline Ortiz teve a prisão preventiva substituída por prisão domiciliar, por ser mãe de dois filhos menores de idade.

A defesa dos réus José Luís, Francisco Alfonso, Alice Ortiz e Elvis Riquelme contestam as condenações dos clientes e negam o flagrante de drogas e armas apontado pela Polícia Federal.

Segundo os advogados Ighor Vieira Villas Bôas, Tainá Carpes Ely e Nathaly Marceli de Souza Santos, "o suposto escritório do crime citado pela PF e que deu nome à operação policial não passava de residência familiar".

Os advogados sustentam que, "quando os agentes federais chegaram à casa na rua Sérgio Martins, estavam no imóvel o empresário José Luís, a mulher dele, Alice Ortiz, o irmão Francisco Alfonso e o amigo de infância Elvis Henrique, também empresário".

Os defensores alegam ainda que "Francisco se separou da mulher e passou a morar com o irmão por necessidades financeiras. Já Elvis Henrique fora convidado para uma confraternização e não sabia quem era o aniversariante, mas por ser amigo de infância de José Luís e Francisco Alfonso, foi para a residência".

Ainda de acordo com os defensores, " o flagrante de armas e drogas na casa nunca existiu e em momento algum foi apresentado em juízo qualquer tipo de entorpecente ou armamento que pudesse ser levado à posse ou propriedade do empresário, da mulher, do irmão ou do amigo de infância dele".

Para os defensores, " o chamado escritório do crime apontado pela PF não condiz com a realidade e não passa de uma residência onde moram três adultos, duas crianças e dois pequenos cães de raça".

Os defensores acrescentam que "qualquer pessoa que estivesse na casa no momento do cumprimento de mandado de busca e apreensão seria preso, até mesmo um entregador de delivery exercendo sua atividade".

A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos outros réus, mas publicará na íntegra a versão dos defensores assim que houver uma manifestação.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.