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Chefe do 'escritório do crime' do PCC no Paraguai é condenado a 30 anos
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A Justiça Federal condenou oito integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) acusados de montar um "escritório do crime" nas cidades gêmeas de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, para comandar o tráfico de drogas e armas na fronteira dos dois países.
A decisão é do juiz Ricardo Duarte Ferreira Figueira, da 1ª Vara Federal de Ponta Porã. Os réus foram acusados por tráfico internacional de drogas e associação à organização criminosa. As penas impostas aos integrantes do PCC variam de 17 anos e 6 meses a 30 anos de prisão em regime fechado.
A Polícia Federal começou a investigar a quadrilha em março de 2021, quando 13 integrantes do PCC — 8 paraguaios e 5 brasileiros — foram presos em um lava jato em Pedro Juan Caballero. Com eles foram apreendidos 11 veículos, 6 fuzis, farta munição e coletes à prova de bala.
Na ocasião, agentes federais apontaram como líder do bando e do PCC na região fronteiriça Wesley Neres dos Santos, o Bebezão. Outros dois detidos, o brasileiro Willian Meira do Nascimento, o Bruxo, e o paraguaio Alfredo Gimenez Larrea, acabaram soltos.
Ambos, no entanto, passaram a ser monitorados por policiais federais e tiveram as ligações telefônicas interceptadas com autorização judicial. Os agentes descobriram que, com a prisão de Bebezão, o PCC arrumou um novo substituto para liderar os "negócios" da facção na fronteira Brasil-Paraguai.
As investigações da PF apontaram que o escolhido foi Anderson Meneses de Paula, o Tuca. Agentes da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai seguiram os passos dele e apuraram que o novo líder do PCC ingressou naquele país em 26 de setembro de 2021.
Segundo a Polícia Federal, quase um mês antes de ir para o Paraguai, Anderson participou do ataque com explosivos a três agências bancárias em Araçatuba (SP). O assalto aconteceu na madrugada de 30 de agosto de 2021. Os ladrões causaram pânico à população, mataram duas pessoas e fugiram levando R$ 2 milhões. A meta dos criminosos era roubar R$ 90 milhões.
No Paraguai, os policiais da Senad fotografaram Anderson com um fuzil em Pedro Juan Caballero. Ele foi morar com a mulher Francisca Kelly Lima da Silva em uma casa no bairro Jardim Universitário, na cidade de Ponta Porã.
Pena maior para o líder
Em 3 de outubro do ano passado, a Polícia Federal deflagrou a operação "Escritório do crime" e cumpriu em Ponta Porã oito mandados de busca e apreensão, além dos mandados de prisão. Foram apreendidos valores, outros bens e munição de grosso calibre. Anderson era o alvo principal da ação.
No final da semana passada, o juiz federal Ricardo Duarte Ferreira Figueira condenou os réus. Anderson, apontado como o líder do PCC na região, recebeu a maior pena, de 30 anos, assim como seu comparsa José Luís Martins Júnior.
A condenação deles foi maior porque ambos acabaram flagrados com armas. Alfredo Larrea, Francisco Alfonso e Elvis Henrique Gimenez Riquelme foram condenados a 27 anos e seis meses; Willian, a 20 anos; Francisca, mulher de Anderson, e Alice Lorena Rodrigues Ortiz, a 17 anos e seis meses.
No entendimento do juiz, os réus pertencem ao PCC, "uma organização criminosa de projeções nacional e internacional, com imenso aparato bélico e econômico-financeiro, que envolve milhares de integrantes, numa escala genuinamente empresarial".
Por determinação do juiz Ricardo Figueira, a ré Aline Ortiz teve a prisão preventiva substituída por prisão domiciliar, por ser mãe de dois filhos menores de idade.
A defesa dos réus José Luís, Francisco Alfonso, Alice Ortiz e Elvis Riquelme contestam as condenações dos clientes e negam o flagrante de drogas e armas apontado pela Polícia Federal.
Segundo os advogados Ighor Vieira Villas Bôas, Tainá Carpes Ely e Nathaly Marceli de Souza Santos, "o suposto escritório do crime citado pela PF e que deu nome à operação policial não passava de residência familiar".
Os advogados sustentam que, "quando os agentes federais chegaram à casa na rua Sérgio Martins, estavam no imóvel o empresário José Luís, a mulher dele, Alice Ortiz, o irmão Francisco Alfonso e o amigo de infância Elvis Henrique, também empresário".
Os defensores alegam ainda que "Francisco se separou da mulher e passou a morar com o irmão por necessidades financeiras. Já Elvis Henrique fora convidado para uma confraternização e não sabia quem era o aniversariante, mas por ser amigo de infância de José Luís e Francisco Alfonso, foi para a residência".
Ainda de acordo com os defensores, " o flagrante de armas e drogas na casa nunca existiu e em momento algum foi apresentado em juízo qualquer tipo de entorpecente ou armamento que pudesse ser levado à posse ou propriedade do empresário, da mulher, do irmão ou do amigo de infância dele".
Para os defensores, " o chamado escritório do crime apontado pela PF não condiz com a realidade e não passa de uma residência onde moram três adultos, duas crianças e dois pequenos cães de raça".
Os defensores acrescentam que "qualquer pessoa que estivesse na casa no momento do cumprimento de mandado de busca e apreensão seria preso, até mesmo um entregador de delivery exercendo sua atividade".
A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos outros réus, mas publicará na íntegra a versão dos defensores assim que houver uma manifestação.
As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.
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