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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Juíza decreta prisão preventiva de diretor do Detran suspeito de corrupção

Advogado afirma que acusações contra Quintas são frágeis - Arte/UOL
Advogado afirma que acusações contra Quintas são frágeis Imagem: Arte/UOL

Colunista do UOL

28/09/2022 14h44

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O diretor do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) Luiz Augusto Quintas, 42, estava em sua cobertura duplex, no Planalto Paulista, com vista para o aeroporto de Congonhas, na zona sul paulistana, avaliada no mínimo em R$ 2 milhões, quando foi preso por policiais civis no último dia 21.

Segundo a Polícia Civil, Quintas liderava uma organização criminosa no Detran de São Paulo, responsável por liberar, de maneira fraudulenta, a venda de veículos com problemas judiciais e também facilitar a emissão de carteiras de habilitação sem necessidade de aulas prática ou teórica.

No último dia 23, a juíza Marina Freire, da 2ª Vara Criminal de Bauru (SP), decretou a prisão preventiva de Quintas e de outros quatro acusados de envolvimento no esquema fraudulento. Um deles é um sargento da Polícia Militar de 42 anos que está recolhido no Presídio Romão Gomes.

Os outros três acusados são: dois despachantes de 39 e 65 anos, ambos com atuação na zona leste de São Paulo, e o ajudante deles, de 52 anos.

Procurado pela coluna, o advogado Kiyokazu Takahashi, defensor de Quintas, disse que seu cliente é acusado injustamente, é tão vítima quanto o Estado e que também teve clonada a senha de acesso no sistema de informações do Detran.

Takahashi ressaltou que as acusações contra Quintas são frágeis, não se sustentam e que no decorrer do processo provará a inocência dele, apresentando provas documentais.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos demais envolvidos, mas publicará a versão de todos assim que houver um posicionamento.

As fraudes foram descobertas em agosto de 2021, quando uma funcionária da Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) de Bauru, órgão subordinado ao Detran, notou que a senha do computador dela havia sido usada ilegalmente para desbloquear a comunicação de venda de um veículo.

Técnicos do Detran apuraram que os acessos indevidos foram realizados por meio de três computadores instalados na sede de Bauru. Um deles era da servidora pública que teve o login e a senha utilizados sem o conhecimento e consentimento dela.

A Polícia Civil chegou aos suspeitos após ouvir pessoas que tiveram o desbloqueio da comunicação de venda de veículos. As investigações apontaram que apenas com a senha da servidora de Bauru foram realizadas baixas ilegais de comunicação de venda de 1.131 veículos no período de abril a agosto de 2021.

No inquérito policial instaurado para investigar as fraudes consta que Quintas, na qualidade de diretor do Detran, era o responsável por executar no sistema do órgão as demandas recebidas dos dois despachantes da zona leste paulistana.

O relatório de investigação da Polícia Civil diz ainda que o sargento trabalhava para um dos despachantes nos dias de folga e oferecia os serviços fraudulentos aos clientes interessados. O ajudante deles cuidava do transporte dos documentos fraudados.

Armas e dinheiro apreendidos em operação sobre fraude no Detran - Arte/UOL - Arte/UOL
Arma, dinheiro e passaportes apreendidos em operação sobre fraude no Detran
Imagem: Arte/UOL

Casa da moeda

No duplex de Quintas, os agentes encontraram, durante o cumprimento dos mandados de busca, apreensão e prisão, armas, R$ 142.025 em espécie e uma folha de cheque preenchida no valor de R$ 500 mil. Para a Polícia Civil, "ele tinha um padrão de vida luxuoso incompatível com a renda auferida".

O advogado Kiyokazu Takahashi afirmou que todos os bens adquiridos por Quintas e os valores em espécie movimentados pelo cliente são declarados em imposto de renda.

O diretor do Detran está preso em um CDP (Centro de Detenção Provisória) de Guarulhos. Os acusados são investigados pelos crimes de corrupção, inserção de dados falsos em sistema de informação, associação à organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Em 17 de janeiro de 2013, o Detran foi transformado em autarquia por meio do Projeto de Lei Complementar 40/2012 e saiu da estrutura da Polícia Civil.

Antes disso, o Detran era chamado nos meios policiais e jornalísticos de "casa da moeda", porque sempre foi alvo de investigações envolvendo fraudes e escândalos milionários. Para os corruptos, o órgão era considerado uma fábrica de dinheiro.

Em nota divulgada à imprensa, o Detran informou que colabora com as investigações e que neste ano realizou 2.300 fiscalizações e 12 operações conjuntas com as forças de segurança estaduais para combater delitos, fraudes e corrupção.