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Justiça mantém pena de 102 anos para acusado de matar PM "rei do parto"
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Foi uma das maiores perseguições policiais da história de São Paulo. Aconteceu em 7 de novembro de 2008, quando uma quadrilha ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital) roubou um banco em Guarulhos, na Grande São Paulo, e trocou tiros com PMs até o Jaçanã, na zona norte paulistana.
Durante os confrontos, o soldado Ailton Tadeu Lamas, 44, morreu e outros sete policiais militares ficaram feridos. O assaltante Carlos Antônio da Silva, 29, o Balengo, foi atingido no revide e não resistiu. Um tiro de fuzil disparado pelos ladrões matou um rapaz.
Cinco criminosos foram presos, julgados e condenados. Elielton Aparecido da Silva, 46, recebeu uma pena de 102 anos e 6 meses. Foi acusado de matar com tiros de fuzil AR-15 o soldado Lamas e o auxiliar de produção Leandro Rodrigues Marques, 22. O jovem passava por uma rua onde houve confronto.
Advogados de Elielton recorreram da decisão judicial. Na última quinta-feira (13), o 2º Grupo de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo julgou o recurso. Os 10 desembargadores negaram provimento ao agravo interno e a sentença de condenação aplicada ao réu na primeira instância foi mantida.
A quadrilha liderada por Elielton era de altíssima periculosidade. Além de Balengo, morto no confronto, também integrava o bando Cláudio Roberto Ferreira, 38, o Galo. Ambos eram do PCC e ligados aos ladrões que roubaram R$ 164 milhões do Banco Central de Fortaleza em agosto de 2005.
O alvo escolhido por Elielton e seus comparsas foi o Banco Real. Um dia antes do ataque, o criminoso foi à agência, na rua Capitão Gabriel, centro de Guarulhos, para colher informações sobre os procedimentos de segurança da instituição financeira.
Perseguição e tiros
O bando roubou R$ 102 mil. A Polícia Militar foi avisada e a perseguição começou nas imediações do banco. Leandro caminhava pela praça Getúlio Vargas quando foi baleado. Ele chegou a ser socorrido em um hospital da região, mas não resistiu.
Os criminosos fugiram em veículos rumo à zona norte da capital. No trajeto trocaram tiros com policiais militares, abandonaram os carros e roubaram outros. Ao menos sete vítimas tiveram os automóveis levados à força pela quadrilha.
A troca de tiros foi intensa. Os ladrões portavam fuzis, metralhadoras e pistolas e quase derrubaram o helicóptero Águia da PM. A perseguição seguiu pelas vias Abílio Pedro Ramos, Benjamim Pereira, Manoel Gaya, Doutor Antônio Maria Laet, Coronel Sezefredo Fagundes, Alberto Pierrotti e Maria Amália Lopes de Azevedo.
Na avenida Manoel Gaya, os assaltantes Cristiano Bezerra Cardoso, Ademir Reino e Emerson Moreira da Silva abandonaram um veículo roubado, dispararam contra o Águia, trocaram tiros com os militares e fugiram. Os três foram presos posteriormente por policiais civis.
Galo estava com o trio, mas não conseguiu ir muito longe e acabou preso. Elielton e Balengo também roubaram carros na fuga. O último foi uma picape Saveiro. Ao menos 100 policiais civis e militares participaram das perseguições.
Na rua Alberto Pierroti, Elielton e Balengo foram cercados por policiais militares do 43º Batalhão. A dupla abandonou o veículo e correu até procurar refúgio em uma residência, onde manteve reféns uma menina de 8 anos, dois adolescentes de 14 e 17 e a avó deles, de 61 anos.
Balengo ficou no piso inferior da casa. Ele morreu na troca de tiros com os militares. Os PMs tentaram convencer Elielton a se entregar e libertar os reféns. Quando um policial perguntou o nome dele, o criminoso respondeu: "É correria, eu sou bandido, sou ladrão e vou atirar".
Herói e rei do parto
Ele disparou e matou o soldado Lamas com um tiro de AR-15. O policial militar Paulo Sérgio Vieira das Neves, na época capitão, foi atingido na cabeça e levado para o hospital. Assim como o oficial, outros seis soldados também ficaram feridos.
Elielton só se entregou após negociar a rendição com a equipe do delegado Ruy Ferraz Fontes, então titular da Delegacia de Repressão a Roubo a Bancos, do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) subordinado à Polícia Civil.
A ação dos criminosos causou pânico e terror à sociedade. A morte do soldado Lamas deixou a população da zona norte consternada e indignada. Ele era muito conhecido, querido e respeitado na região. A Polícia Militar ficou em luto.
No dia em que morreu, Lamas completava 22 nos de corporação. Ele era chamado pelos colegas de farda e por moradores do bairro do Tremembé de "rei do parto". Já havia ajudado 14 mulheres a dar à luz. Alegre, brincalhão e amante do samba, era tido como herói na região.
Além de Elielton, a juíza Rejane Rodrigues Lage, da 2ª Vara Criminal de Guarulhos, condenou Galo a 65 anos e Cristiano, Ademir e Emerson a 116 anos e 6 meses em 29 de setembro de 2011.
A pena dos três últimos foi reduzida para 89 anos em 31 de julho de 2013, por decisão unânime da 11ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça. Os desembargadores entenderam que os réus não tiveram participação no assassinato do soldado Ailton Tadeu Lamas.
Galo, mesmo condenado a 65 anos, não ficou muito tempo atrás das grades. Em agosto de 2016 ganhou a liberdade e saiu pela porta da frente da Penitenciária de Mirandópolis (SP), um dos redutos do PCC na região oeste do estado. Mas ele não teve muita sorte.
Em 23 de julho de 2018, Galo foi assassinado com 70 tiros de fuzil na rua Coelho Lisboa, no Tatuapé, zona leste paulistana. Ele foi mais uma das vítimas da guerra interna do PCC. O conflito tinha começado cinco meses antes. Em fevereiro daquele ano foram mortos a tiros em Fortaleza (CE) Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca.
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