Bolsonaro disse para Marcola que haveria pena de morte quando fosse ditador

No diálogo, Bolsonaro ressalta que democraticamente ninguém vai resolver nada e reafirma que a pena de morte serviria em muito para resolver a criminalidade no país. Marcola rebate: "Penso que não". E Bolsonaro completa que defende a pena capital também para criminosos do colarinho branco.

Marcola responde que estava preso havia 14 anos, que sofreu coisas horríveis na prisão, que já "foi morto" mais de dez vezes na cadeia e relata que a pena de morte seria um alívio para ele, embora não tenha cometido nenhum crime que a merecesse.

O parlamentar retruca que é contra a política de direitos humanos e cita o massacre de 111 presos do Carandiru, ocorrido em 1992, criticando uma proposta de indenização aos familiares dos mortos. Marcola responde que muitos deles nem tinham sido condenados.

O deputado argumenta que pegou as fichas de dez presos que morreram e disse que eles tinham cometido 22 crimes. Marcola então fala que o estado não tinha o direito de matá-los.

Em outro trecho do diálogo, Bolsonaro diz para Marcola que quem não faz barulho não vai ser lembrado nunca e complementa: "É por isso que apoio a greve das Polícias Militares". O deputado afirma que é do interior de São Paulo e que aprendeu desde criança que apenas se respeita aquele que se teme.

Marcola responde que não acredita nisso e diz que respeita o então juiz Sebastião Coelho, mas não o teme. Bolsonaro afirma que se acabar com a disciplina fica difícil comandar.

Em agosto de 2001, Marcola estava recolhido na Penitenciária da Papuda, em Brasília. Naquele ano, ele ainda não havia assumido a liderança do PCC (Primeiro Comando da Capital). Isso só aconteceu no ano seguinte, após uma guerra interna na facção criminosa.

Durante seu depoimento à comissão, deputados afirmam que Marcola integrava o PCC. O preso negou pertencer à facção criminosa e responde que não há prova disse e completa que é a imprensa quem faz essa afirmação.

Leia a íntegra da conversa entre Bolsonaro e Marcola em 2001:

Bolsonaro - Como não participei da reunião, serei bastante breve. O Camacho falou uma coisa óbvia: quem não faz barulho, não vai ser lembrado nunca.

Marcola - Exatamente.

Bolsonaro - É por isso que apóio as greves das Polícias Militares. E se a PM de Brasília bobear, não reclamar também, de vez em quando não fizer seu barulho, vai acabar ficando com a remuneração igual a dos colegas do Rio de Janeiro, 600 reais por mês, uma coisa ridícula. Nossas autoridades não têm capacidade de se antecipar aos problemas.
Agora, também não sou favorável ao senhor, Camacho. O senhor tem de cumprir sua pena. Eu jamais o empregaria no meu gabinete, se o senhor saísse da prisão um dia. Mas o senhor pode também não querer trabalhar comigo.

Marcola - Não é só o senhor, ninguém me empregaria. Isso que é difícil.

Bolsonaro - A mão-de-obra está sobrando por aí também.

Marcola - Exato.

Bolsonaro - Porque não há política de controle de natalidade neste País etc.
Desde criança aprendi - sou do interior de São Paulo - que apenas se respeita aquele que se teme.

Marcola - Não acredito nisso.

Bolsonaro - Não acredita?

Marcola - Respeito o Dr. Sebastião Coelho e não o temo.

Bolsonaro - Tudo bem. Se se acabar com a disciplina, por exemplo, dentro do Exército brasileiro, do qual sou capitão, fica difícil comandar. Isso pode levar até a situações adversas. Defendo que se tem de plantar para colher na frente. Não sei se vou colher e o que vou colher um dia.
Assim como os senhores dentro do presídio se respeitam, tendo em vista a pena de morte lá dentro, creio que, se implantássemos a pena de morte no Brasil, muita gente não estaria lá dentro, já estaria enterrado depois de devidamente eletrocutado. A OAB é contra a pena de morte, porque preso condenado não paga advogado, mas tudo bem.
Ou o preso estaria nessa situação, ou ele pensaria mais vezes antes de cometer um delito. Por exemplo, hoje foi seqüestrada a filha do Silvio Santos. Não o estou defendendo por ele ser rico. Ninguém estupra mulher feia, ninguém vai seqüestrar pobre. É uma coisa óbvia. Então, não sei se o senhor falou sobre isso, logicamente é uma pergunta um tanto quanto inocente de minha parte. Penso que a pena de morte serviria para inibir em muito a criminalidade do País.

Marcola - Acho que não.

Bolsonaro - Para crime de colarinho branco também.

Marcola - Aí, sim.

Bolsonaro - Tem que se começar por aí.

Marcola - Se começar por cima, vai afetar embaixo. Agora, se começar por baixo, não vai afetar em cima.

Bolsonaro - No dia em que eu for ditador deste País, vamos resolver esse problema. Pode ter certeza disso aí. Democraticamente, não vamos resolver nunca. É a mesma coisa de chover no molhado.
Assim como os senhores, acredito na pena de morte.

Marcola - Estou há quatorze anos preso. Nesse tempo, passei por muita coisa horrível na prisão. Já fui morto mais de dez vezes na prisão. Preferiria que tivessem me aplicado uma injeção quando lá cheguei aos dezoito anos. Assim, não estaria aqui agora e não teria sofrido o que sofri. Para mim, teria sido um alívio a pena de morte, embora eu não tenha cometido nenhum crime que a merecesse. Não tenho nenhum homicídio, nem nada que justifique a pena de morte.

Bolsonaro - Sou contra a política de direitos humanos neste País.

Marcola - O senhor é contra?

Bolsonaro - Sou contra. Direitos humanos é para seres humanos. Já fui candidato a Presidente da Comissão por uma vez e perdi por um voto: só tive o meu voto.
Não está aqui a Deputada Zulaiê Cobra, pois eu gostaria de falar perto dela, e ainda mais porque vou falar a respeito de um Governador que já faleceu, o Mário Covas. No seu Governo, foi proposta indenização aos familiares dos 111 mortos do Carandiru. Peguei aleatoriamente a ficha de apenas dez daqueles que morreram e vi que tinham cometido vinte e dois crimes. Fazendo a projeção...
Marcola - Mas muitos não tinham sido nem condenados.

Bolsonaro - Tudo bem. Mas muitos tinham sido condenados também.

Marcola - O Estado não tem esse direito.

Bolsonaro - Se for feita uma projeção por baixo, havia mais ou menos cem familiares. Esses 111 presos deixaram viúvas e órfãos sem recursos. Infelizmente, esses garotos, sem pais, vão entrar na criminalidade no futuro. Até o Paulo Maluf disse: "Estupra, mas não mata." E o pessoal desce o pau no Maluf por causa disso. Agora, tantos crimes hediondos acontecem. Se houvesse a pena de morte, com toda certeza muitos desses crimes deixariam de acontecer.

Marcola - Mas acho que deveria começar de cima.

Bolsonaro - Tudo bem. Começa por onde começar, mas tem que começar.