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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Como Tuta, líder do PCC nas ruas, virou adido em consulado de MG

Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, principal líder do PCC nas ruas até abril de 2022, quando foi excluído da facção - Reprodução
Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, principal líder do PCC nas ruas até abril de 2022, quando foi excluído da facção Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

11/05/2023 04h00

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Marcos Roberto de Almeida, o Tuta — principal líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) nas ruas até 26 de abril de 2022, quando foi excluído da facção criminosa —, exerceu o cargo de adido comercial no Consulado de Moçambique em Minas Gerais durante um ano. Ele recebia um salário de R$ 10 mil mensais.

A informação foi confirmada à Justiça de São Paulo pelo ex-cônsul-honorário da República de Moçambique em Minas Gerais, Deusdete Januário Gonçalves.

Tuta ocupou a função no período de julho de 2018 até julho de 2019, mesmo sendo procurado pela polícia paulista.

Promotores afirmam que Tuta foi assassinado ano passado, mas o PCC diz que ele foi expulso — e não se sabe, oficialmente, sobre seu paradeiro.

Os advogados de Tuta informaram que não vão se pronunciar sobre as acusações contra o cliente.

A contratação de Tuta

No depoimento judicial, Deusdete revelou que o consulado tinha aberto vagas para adido comercial e que Tuta, apresentado por ministros-conselheiros da Embaixada de Moçambique no Brasil, preenchia todos os requisitos necessários para o cargo e foi contratado com carteira assinada.

Segundo o ex-cônsul, na oportunidade foram exigidas as apresentações da folha de antecedentes criminais de Tuta junto à Justiça de Minas Gerais e à Justiça Federal.

A entrevista para a contratação foi realizada pelo próprio Deusdete e os demais conselheiros. O ex-cônsul explicou que a missão de Tuta como adido comercial era apresentar ao consulado, a cada dois meses, uma empresa disposta a investir em Moçambique.

Para cada indicação, o adido comercial podia receber do governo moçambicano 15% do valor investido pela companhia no país africano. De acordo com Deusdete, o então líder do PCC indicou uma empresa de bateria e outra de lixo.

O ex-cônsul contou que realizava um levantamento para checar a idoneidade da empresa indicada. De acordo com ele, o consulado de Moçambique em Minas Gerais não registrou nenhum problema em relação às companhias apresentadas por Tuta.

Sem ostentação e com carro velho

Deusdete acrescentou que o adido comercial não possuía facilidades ou benesses nas fronteiras e aeroportos. Disse ainda que Tuta não ostentava condição de riqueza e que chegou a um encontro agendado pelo consulado em um carro velho.

A Justiça ouviu Deusdete na condição de testemunha de defesa de Tuta em um processo sobre lavagem de dinheiro. Ele revelou que, quando foi chamado para depor na fase de inquérito, sentiu-se desconfortável, chamou a atenção do adido comercial de forma dura e o desligou do consulado.

Depois disso, Deusdete não teve mais notícias de Tuta. O ex-cônsul declarou à Justiça de São Paulo que deixou o Consulado de Moçambique em Minas Gerais em julho de 2019.

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Morto pelo PCC

Promotores de Justiça do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público do Estado de São Paulo, têm informações de que Tuta foi assassinado por integrantes do "tribunal do crime" do PCC.

O motivo do assassinato seria por não ter cumprido a missão de resgatar mais de dez líderes da organização criminosa recolhidos desde fevereiro de 2019 em penitenciárias federais, especialmente nos presídios de Brasília (DF) e Porto Velho (RO).

Em 26 de abril do ano passado, o PCC divulgou um salve (comunicado) informando que Tuta não havia sido assassinado, mas sim expulso da facção por "má condução e falta de responsabilidade", como divulgou esta coluna em 17 de maio de 2022.