Josmar Jozino

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Reportagem

Matadores de delator do PCC também vingaram mortes de Gegê do Mangue e Paca

Para entender a motivação do assassinato de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, delator do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de policiais corruptos morto a tiros em 8 de novembro de 2024 no aeroporto internacional de Guarulhos, é preciso retornar ao ano de 2018.

Em 15 de fevereiro daquele ano, Rogério Jeremias de Simone, 41, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, 38, o Paca, ambos da cúpula do PCC, foram assassinados a tiros em uma aldeia indígena de Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza, no Ceará, porque teriam desviado dinheiro da organização.

As mortes de Gegê e Paca desencadearam uma guerra interna na facção criminosa e banhou de sangue o até então tranquilo bairro do Tatuapé, na zona leste paulistana, onde Gritzbach e seus maiores rivais, delatados por ele, tinham e ainda têm negócios e vários apartamentos de luxo.

O banho de sangue após as mortes de Gegê e Paca

Segundo investigações, os assassinatos de Gegê e Paca tiveram a participação e coordenação do narcotraficante Wagner Ferreira da Silva, 32, o Cabelo Duro, também proprietário de imóveis caríssimos na região do Tatuapé, inclusive no Jardim Anália Franco.

Uma ala do PCC levou uma semana para vingar as mortes de Gegê e Paca. Em 22 de fevereiro de 2018, Cabelo Duro foi assassinado com tiros de fuzil quando chegava a um hotel na rua Eleonora Cintra, no Tatuapé. Ele foi atraído ao local pelo ladrão de bancos Cláudio Roberto Ferreira, 38, o Galo.

Seis meses após a morte de Cabelo Duro, em julho de 2018, foi a vez de Galo ser assassinado. Ele estava em um Audi parado na rua Coelho Lisboa, quando atiradores chegaram e dispararam em direção ao veículo ocupado por ele. O assaltante de bancos foi atingido por ao menos 70 tiros de fuzis.

Dias antes de morrer, Cabelo Duro havia externado preocupação com sua integridade física ao amigo e comparsa José Adnaldo Moura, 39, o Nado, parceiro de Galo e do bando de ladrões que furtou R$ 164 milhões do Banco Central de Fortaleza em agosto de 2005.

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Nado também teve um triste fim. Por se recusar a revelar o paradeiro de Cabelo Duro foi sequestrado e julgado pelo "tribunal do crime" do PCC na Favela de Paraisópolis, zona sul. Dizem que Nado acabou assassinado e enterrado em uma cova na comunidade. A polícia não achou o corpo.

Gegê e Paca, quando estavam presos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), passavam ordens para o narcotraficante Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, morto a tiros no Tatuapé, em 27 de dezembro de 2021, com o motorista Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue.

Ala do PCC aplicou pena capital a Gritzbach

Vinícius Gritzbach foi apontado pela ala do PCC ligada a Gegê do Mangue e Paca como o mandante do assassinato de Cara Preta. Ele foi acusado pela facção de investir R$ 200 milhões do narcotraficante em criptomoedas e de desviar o dinheiro.

Sócios de Cara Preta e ligados a Gegê e Paca, o narcotraficante Cláudio Marcos de Almeida, 50, o Django, e Rafael Maeda Pires, 31, o Japa, também moradores no Tatuapé, ficaram na mira do PCC porque levaram Gritzbach a um "júri do tribunal do crime" pela morte de Anselmo Santa Fausta, mas o absolveram.

Django foi julgado pelo "tribunal do crime" na favela de Paraisópolis e condenado à morte. Ele acabou enforcado e teve o corpo jogado sob o viaduto de Vila Matilde, zona leste, em 23 de janeiro de 2022.

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Japa "se suicidou", segundo a polícia, em um prédio no Tatuapé em maio do ano passado.

A ala do PCC ligada a Gegê, Paca e Cara Preta jurou matar Vinícius Gritzbach a qualquer custo. Pena capital. Os motivos eram os desvios de dinheiro e principalmente a delação de integrantes da facção feita pelo empresário para um grupo promotores de Justiça de São Paulo.

Em um primeiro momento, ele pediu proteção quando fez a delação. Afirmou que era um morto vivo. Depois desistiu. Os rumores são de que quem mandou matar Cabelo Duro para vingar os assassinatos de Gegê e Paca também mandou matar Gritzbach para vingar a morte de Cara Preta. Os dois tiveram mortes semelhantes: foram fuzilados.

Até agora, a força-tarefa criada para investigar a morte de Gritzbach prendeu dois suspeitos de envolvimento no crime. O Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) diz já ter os apelidos e nomes dos possíveis mandantes do assassinato do empresário, mas os mantém em sigilo.

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