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PCC criou 'tropa do arranca' para saquear cargas de trens em Cubatão (SP)
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O PCC (Primeiro Comando da Capital) criou o grupo "tropa do arranca" para saquear cargas de grãos, fertilizantes e combustíveis de vagões em Cubatão, na Baixada Santista. Segundo a Polícia Civil, a organização criminosa mobilizou 95 integrantes da facção apenas para este fim.
Um relatório elaborado pela empresa de logística, alvo dos furtos e roubos, mostra que de janeiro a 14 de março deste ano foram registradas 330 ocorrências, uma média de quatro casos por dia. O documento diz ainda que os ataques se intensificaram a partir do ano passado.
Policiais civis identificaram os líderes da "tropa do arranca" em 30 de janeiro deste ano após prender Wilton do Nascimento, 32, apontado como um dos criminosos mais atuantes da quadrilha. Com ele foram apreendidos dois telefones celulares.
Wilton acabou solto após pagamento de fiança. Porém voltou a ser detido em 13 de março deste ano durante a deflagração da Operação Ferrovia Segura", desencadeada por policiais civis e militares em Cubatão, Santos, São Vicente e Praia Grande.
Os aparelhos de telefonia apreendidos com o preso foram periciados. As análises indicam que Wilton criou e administrou o grupo de WhatsApp "tropa do arranca". Havia várias mensagens entre os integrantes do bando e fotos de movimentações bancárias e da contabilidade das cargas levadas.
Investigadores apuraram que o pioneiro nos ataques é Ítalo Matheus Gomes da Silva, 25. Os agentes não conseguiram prendê-lo na Operação Ferrovia Segura. A Polícia Civil descobriu ainda que os trens só podiam ser saqueados após autorização de Wagner Silva Medeiros, 39, o Celebridade.
Wagner foi preso e é tido por policiais como o líder do PCC na região. Um relatório elaborado pela Polícia Civil diz que ele tem papel importante na organização criminosa. Nos telefones periciados tinha vários diálogos entre Wilton e Celebridade.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Wilton do Nascimento, Ítalo Matheus Gomes da Silva e Wagner Silva Medeiros, mas publicará na íntegra a versão dos defensores assim que houver uma manifestação.
Quadrilha bem estruturada
O relatório afirma também que a "tropa do arranca" é bem estruturada e atua com divisão de tarefas. Uma parte aproveita a baixa velocidade dos trens nas vias férreas das comunidades da Vila Natal e Vila Esperança, onde arranca as mangueiras do sistema de freio das composições, fazendo-as parar.
Os ladrões, chamados de surfistas, sobem nos trens, fazem buracos nos vagões e contêineres e pegam as cargas. As preferidas são açúcar, soja, farelo e carne, além de combustíveis e fertilizantes. Os produtos eram escondidos em galpões públicos abandonados em Cubatão.
Outra parte do bando se encarregava de vender as cargas para os receptadores. A Polícia Civil apurou ainda que a quadrilha aliciava maquinistas e até mesmo manobristas da empresa responsável pelo transporte ferroviário. Um deles chegou a ser detido, mas acabou solto.
Os funcionários aliciados forneciam informações privilegiadas para a "tropa do arranca", avisando os comparsas sobre a presença de policiais, revelando em quais vagões estavam os grãos e combustíveis e facilitando até a entrega da chave de registro do sistema de freios usada para parar o trem.
Um dos ataques teve final trágico. Em 25 de janeiro deste ano, PMs tentaram impedir mais um saque realizado por dezenas de criminosos. Os agentes confundiram quatro seguranças da empresa de logística com ladrões. Um militar aposentado e um guarda-civil da ativa morreram.
Prejuízo milionário
A Polícia Civil afirma que desde janeiro deste ano fez várias operações em conjunto com a Polícia Militar para coibir as ações, apreendeu toneladas de de grãos furtados ou roubados e prendeu dez criminosos. Outros dez continuam foragidos.
Esses 20 integrantes da organização foram denunciados pelo Ministério Público pelo crime de formação de quadrilha. O juiz Rodrigo de Moura Jacob, da 1ª Vara Criminal de Cubatão, aceitou a denúncia e decretou a prisão preventiva de todos os réus.
Para a empresa vítima dos ataques na Baixada Santista, as ações criminosas da "tropa do arranca" prejudicam a logística de transporte nacional, afetam a balança comercial, ampliam o Custo Brasil e também mancham a imagem do país no exterior.
Segundo a empresa, 26% dos produtos exportados pelo Porto de Santos são feitos por ferrovias. Somente em 27 de outubro do ano passado, a companhia sofreu prejuízo de R$ 1.330.096,24 com o furto de carne congelada que veio de Rondonópolis (MT) e iria para o porto santista.
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