Polícia apura se 4 presos morreram após coquetel à base de cocaína e viagra
A Polícia Civil e o serviço de inteligência da SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) investigam as circunstâncias das mortes de quatro presos dos CDPs (Centros de Detenção Provisória) 1 e 2 de Osasco, na Grande São Paulo, ocorridas em um intervalo de cinco dias.
Policiais penais das duas unidades prisionais não descartam a possibilidade de os prisioneiros terem sido vítimas do "coquetel da morte", feito com cocaína, água e viagra e conhecido como "gatorade" no sistema prisional paulista.
A fórmula foi criada em meados dos anos 2000 pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) para matar rivais e garantir a impunidade dos autores dos assassinatos. O coquetel provoca overdose — apontada como causa das mortes — e dificilmente alguém é responsabilizado criminalmente.
No CDP 1 foram registradas as mortes dos detentos Juliano Santos de Jesus, 24, e Rafael Elso Lucas, 33. No CDP 2 morreram os prisioneiros Alex da Silva Galdino de Sousa, 30, e Erick Clepson Santos Batista, 32. Os casos intrigam investigadores de Osasco.
Procurada pela reportagem, A SAP confirmou que foram registradas quatro mortes nas unidades de 30 de julho até ontem e que foram abertos procedimentos apuratórios preliminares para averiguar os fatos e registrados boletins de ocorrência em distrito policial.
Arremessado para o corredor
A coluna apurou que na noite de 30 de julho policiais penais faziam a contagem dos presos no raio 4 do CDP 1, quando detentos da cela 41 pediram atendimento médico para Juliano. Ele foi arremessado do xadrez para o corredor e ficou com lesões no corpo.
Juliano foi levado para o setor de enfermaria e depois removido para o pronto-socorro do Hospital Regional de Osasco, onde morreu. O delegado José Luiz Nogueira Filho e o escrivão Roberto Lima Soares, do 5º DP de Osasco, registraram o caso como homicídio.
Espumando pela boca
Por volta das 3h da madrugada de quinta-feira (3), ainda no CDP 1 de Osasco, os funcionários ouviram gritos em uma cela onde estavam confinados 36 presos. Os agentes penais abriram o xadrez e encontraram Rafael Elso Lucas, 33, com a boca espumando.
O presidiário foi levado para um hospital de Osasco, mas não resistiu. Policiais penais disseram que um detento também passou mal, possivelmente mais uma vítima do "gatorade", e continua internado na mesma unidade hospitalar.
Morte suspeita e intoxicação
Na manhã de quarta-feira (2), o preso Erick Clepson passou mal. No boletim de ocorrência consta que ele estava isolado na enfermaria da unidade, para tratamento de tuberculose. O prisioneiro foi a óbito no Hospital Regional de Osasco, e o caso foi registrado como morte suspeita.
Na terça-feira (1), um policial penal foi chamado às pressas para prestar atendimento ao preso Alex da Silva. Quando o agente chegou ao local, outros detentos disseram que o colega de cela havia se engasgado. Ele recebeu os primeiros socorros no Hospital Regional de Osasco, mas não resistiu.
O médico que atendeu Alex atestou como causa da morte intoxicação exógena, que geralmente é provocada pelo contato com substância químicas que prejudicam o organismo, podendo gerar danos graves e levar à morte.
O que diz a SAP
Sem citar nomes de presos, a SAP informou que um dos detentos do CDP 1 estava em tratamento na enfermaria desde sua inclusão, no dia 19 de julho, e que anteriormente ele havia sido atingido por disparos de arma de fogo antes de dar entrada na unidade, tendo passado por cirurgia. Segundo a pasta do governo de SP, ele foi assistido pela equipe de saúde do CDP a todo momento.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberJá o outro preso foi atendido após solicitação dos próprios custodiados e estava com hematomas no corpo, sendo que um detento da cela assumiu a autoria do crime.
A SAP acrescentou que, no CDP 2, um preso morreu por problemas respiratórios, após tratamento por tuberculose. O segundo foi encontrado desacordado na cela e a causa da morte é investigada.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.