Delegado que tirou calcinha de escrivã algemada em SP escapou de demissão
Foi um escândalo internacional. O vídeo caiu na internet e correu o mundo. As imagens mostravam um delegado da Corregedoria da Polícia Civil mandando tirar à força a calça e a calcinha de uma escrivã algemada, investigada por concussão, no 25º DP (Parelheiros), zona sul paulistana.
O caso aconteceu em 15 de junho de 2009, mas só se tornou público em fevereiro de 2011. Durante esse período, o delegado foi elogiado por seus superiores hierárquicos e só foi afastado da Corregedoria em razão da enorme repercussão do episódio na mídia.
A escrivã foi acusada de pedir R$ 1.000,00 de propina de um homem para favorecê-lo em um inquérito de porte ilegal de arma. O indiciado gravou a conversa com a policial e a denunciou ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público de São Paulo.
A Corregedoria da Polícia Civil foi avisada e ouviu o autor da denúncia. Segundo o órgão, o indiciado foi orientado a telefonar à escrivã para acertar o pagamento. Foi combinada a entrega de R$ 200,00 em quatro notas de R$ 50,00 no cartório do 25º DP.
A DOP (Divisão de Operações Especiais), da corregedoria, alegou à época ter gravado a conversa sobre o pagamento da propina. Os policiais da DOP foram ao distrito policial para realizar a diligência e dar voz de prisão à escrivã.
A suspeita dos homens da corregedoria era a de que a policial havia escondido o dinheiro na calcinha. Tentaram revistá-la, mas ela disse que só permitiria que a busca pessoal fosse feita por policiais civis ou militares femininas. Uma policial militar ajudou na revista pessoal constrangedora, realizada na presença dos delegados.
O delegado responsável pela investigação ordenou a revista na marra e mandou tirar a calça e a calcinha dela. A escrivã ficou nua da cintura para baixo. As cédulas xerocadas pelos agentes foram encontradas.
A cena da nudez forçada causou constrangimento aos colegas dela e de outras pessoas na delegacia.
Indignação geral
Os próprios policiais da corregedoria filmaram a ação. O vídeo vazou na internet um ano e oito meses depois e provocou indignação geral. A Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República divulgou nota de repúdio e pediu o afastamento dos policiais envolvidos.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, à época filiado ao PSDB, determinou o afastamento dos agentes. A chefe da Corregedoria da Polícia Civil perdeu o cargo. Um procedimento administrativo disciplinar foi aberto pela casa censora para apurar a conduta dos policiais.
A 5ª UPP (Unidade Processante Permanente) da Divisão de Processos Administrativos da Corregedoria propôs a demissão do delegado que mandou deixar a escrivã nua e o afastamento por 90 dias de outro delegado que ajudou a despi-la.
Delegado não foi demitido
A reportagem apurou que, até julho do ano passado, o delegado que mandou tirar a calcinha da escrivã não tinha sido demitido e continuava trabalhando normalmente em distrito policial da zona leste de São Paulo.
A SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública) foi procurada pela coluna, para dizer se o delegado sofreu alguma punição e se e a escrivã, demitida em outubro de 2010 e absolvida pela Justiça em 5 de maio de 2014 da acusação de receber propina, foi reintegrada à Polícia Civil.
Até a conclusão deste texto, a SSP não havia dado retorno. O texto será atualizado assim que houver uma manifestação da pasta.
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Quero receberAlém da absolvição, a Justiça determinou, em primeira instância, o pagamento de R$ 30 mil de indenização por danos morais para a ex-policial.
Ela disse à imprensa na ocasião que "como mulher sentiu-se violentada e que no momento em que tiraram a roupa dela pediu pelo amor de Deus para que não filmassem a sua intimidade".
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