Josmar Jozino

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Reportagem

Narcotraficante do PCC ligado à UPBUs movimentou R$ 160 milhões em 9 meses

Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, apontado pelo MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) como narcotraficante do PCC (Primeiro Comando da Capital) e ligado à empresa de transporte coletivo UPBUs movimentou ao menos R$ 160 milhões em suas contas bancárias até ser assassinado, em dezembro de 2021.

Investigações da Polícia Federal mostram que em apenas nove meses, no período de 1º de abril de 2021 a 6 de janeiro de 2022 (10 dias depois de ser assassinado) passaram pelas contas bancárias de Cara Preta R$ 160.822.053.

As suspeitas da Polícia Federal e do MP-SP são de que o dinheiro era proveniente do tráfico de drogas do PCC. Desde 2013, Cara Preta era investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) por suspeita de fornecer cocaína e armas para a facção.

Agentes da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio e ao Tráfico de Armas da Polícia Federal apuraram que entre 1º de abril e 30 de setembro de 2021, Cara Preta movimentou R$ 105.987.085. Foram creditados R$ 48.769.038 e debitados R$ 57.218.047.

No período de 1º de outubro de 2021 a 6 de janeiro de 2022, a movimentação atingiu R$ 30.420.328. Segundo a Polícia Federal, R$ 14.421.710 foram a títulos de crédito e R$ 15.998.618 referentes a débitos.

Em 5 de maio de 2021, Cara Preta havia depositado R$ 24.414.640 em uma conta bancária. A Caixa Econômica Federal comunicou o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que ele foi o vencedor de três lotes do concurso 2363 da Mega-Sena.

As dezenas foram sorteadas em 17 de abril de 2021. O relatório da Polícia Federal diz que "Anselmo Cara Preta" pagou R$ 756 pelas apostas referentes às três cotas contempladas. A PF acredita que ele comprou os bilhetes premiados para lavar o dinheiro do tráfico de drogas do PCC.

Fortuna de R$ 500 milhões

Uma outra investigação conduzida pelo delegado Fernando Santiago, do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico), da Polícia Civil, constatou que Cara Preta investiu R$ 865.200 em cotas da UPBUs, em nome de familiares, entre 2015 e 2021.

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O Denarc apurou ainda que o narcotraficante utilizou identidade falsa em nome de Eduardo Camargo de Oliveira para abrir empresas e investir na UPBUs. Segundo as investigações, ele acumulou fortuna superior a R$ 500 milhões.

Cara Preta foi assassinado a tiros em 27 de dezembro de 2021 no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. O motorista dele, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, dirigia o veículo do patrão. Ele também foi baleado e não resistiu.

Um empresário do Tatuapé e um agente penitenciário chegaram a ser presos sob a acusação de envolvimento no duplo homicídio. Eles sempre negaram participação no crime e, por decisão da Justiça, respondem ao processo em liberdade.

A morte de Cara Preta desencadeou uma guerra interna no PCC. Depois do assassinato dele, outros líderes da facção, como Cláudio Marcos de Almeida, o Django, o terceiro maior acionista da UPBUs e homem forte da facção, foi encontrado enforcado na zona leste em 23 de janeiro de 2022.

A UPBus foi alvo da operação Fim da Linha, deflagrada pelo MP-SP em 9 de abril deste ano. Foram denunciados à Justiça 19 dirigentes da empresa por suspeitas de lavagem de dinheiro e organização criminosa. Três deles são do PCC. Outros dois eram justamente Cara Preta e Django.

Os cinco integrantes da facção criminosa são acusados de ocultar R$ 20,9 milhões da companhia, provenientes do tráfico de drogas. O MP-SP diz que os valores foram convertidos em ativos lícitos usados para aumentar o capital social da UPBUs.

Reportagem

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