Conteúdo publicado há 22 dias
Josmar Jozino

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Camorra, 'Ndrangheta e Cosa Nostra: as máfias italianas parceiras do PCC

Dois cartões postais de Nápoles enviados nos anos 1990 por Bruno e Renato Torsi (ambos membros da Camorra presos na Penitenciária de Rebibbia, em Roma) para Mizael Aparecido da Silva, o Miza (fundador do Primeiro Comando da Capital), indicavam já naquela época a ligação da facção com a máfia italiana.

Os irmãos camorristas, presos no luxuoso bairro dos Jardins, em São Paulo, em 1990, acusados por sequestro, cumpriram pena com Mizael na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, onde ajudaram os criadores do PCC a organizar a facção criminosa.

Em outubro de 1994, um ano e dois meses depois de Mizael ter fundado o PCC com outros sete presos em Taubaté, Renato foi extraditado para a Itália. Em janeiro do ano seguinte, Bruno juntou-se ao irmão na Penitenciária de Rebibbia.

Apesar da distância, os Torsi e Mizael, mesmo atrás das grades e em países diferentes, mantiveram os vínculos de amizade. Segundo a polícia paulista, os irmãos italianos foram os pioneiros a incentivar o PCC a atuar como empresa e conquistar a hegemonia do tráfico internacional de drogas no Brasil.

Nos anos 2000, o Primeiro Comando da Capital tornava-se um dos maiores exportadores de cocaína do Brasil para a Europa, via portos, e já atuava ao lado de outro grupo mafioso, o maior e mais temido da Itália: a 'Ndrangheta, sediada na região da Calábria.

Grandes narcotraficantes do PCC, como André Oliveira Macedo, o André do Rap, criaram vínculos com mafiosos da 'Ndrangheta. Criminosos italianos fugiram para o Brasil com uma missão: atuar lado a lado com a facção criminosa paulista nas remessas de drogas para países europeus.

Alguns mafiosos do grupo calabrês não tiveram muita sorte a acabaram nas garras da Polícia Federal do Brasil. Nicola Assisi e o filho Patrick Assisi foram presos em julho de 2019 na Praia Grande, Baixada Santista, onde viviam na cobertura de um luxuoso edifício.

Condenado a 103 anos na Itália, Rocco Morabito, conhecido como o "Rei da Cocaína" de Milão, e o comparsa Vincenzo Pasquino, integrantes da máfia calabresa, foram presos por agentes federais em 24 de maio de 2021 no flat Ecco Summer, na Praia de Tambaú, em João Pessoa.

Cartão postal enviado a fundador do PCC por membros da Camorra
Cartão postal enviado a fundador do PCC por membros da Camorra Imagem: Obtido pelo UOL/Coluna de Josmar Jozino
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Polícia italiana investiga o PCC

Morabitto foi extraditado para a Itália em 5 de julho de 2022. O parceiro dele teve o mesmo fim. A extradição de Pasquino aconteceu em 26 de março deste ano. Ele aceitou ser colaborador da polícia italiana e começou a revelar como funciona a parceria da 'Ndrangheta com o PCC no narcotráfico.

Na semana passada, uma operação conjunta da Guarda de Finanças Italiana e a Polícia Federal brasileira, comprovava a relação do PCC com outra rede mafiosa, dessa vez da região da Sicília. Trata-se da Cosa Nostra. Na ação os agentes prenderam Giuseppe Bruno, 51, em Natal.

Ele é suspeito de ser o líder do esquema de lavagem de dinheiro da organização criminosa. Atuava nos ramos da construção civil e de restaurantes. Segundo a polícia italiana os investimentos da Cosa Nostra no Brasil podem passar de R$ 3 bilhões.

Com tantos aliados estrangeiros, o PCC, fundado em 31 de agosto de 1993 na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté e às vésperas de completar 31 anos de existência, já é considerado um grupo mafioso pela polícia dos Estados Unidos e de vários países da Europa.

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