Josmar Jozino

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Reportagem

'Ninjas' voltam a agir e abastecem presos do PCC no Carandiru com celulares

Os "ninjas"— grupo contratado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) para arremessar telefones celulares das ruas para o interior de unidades prisionais — passaram a agir nos últimos dias nas proximidades do Complexo do Carandiru, zona norte de São Paulo.

Segundo o Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do estado de São Paulo), os "ninjas" se concentram no Parque da Juventude, onde funcionava a Casa de Detenção, e jogam os aparelhos para o interior da antiga Penitenciária Feminina da Capital, hoje ocupada por presos do semiaberto.

O sindicato informou que ontem dois policiais penais flagraram um preso com um telefone celular e acabaram cercados por outros detentos, sendo agredidos no pavilhão 2. A entidade diz ainda que houve princípio de motim.

A reportagem procurou a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) para saber quais medidas vem sendo adotadas para a coibir a ação dos "ninjas" e o acesso dos presos aos aparelhos de telefone celular. O texto será atualizado em caso de retorno.

Parque da Juventude foi construído onde funcionava a Detenção

O Parque da Juventude foi construído no terreno onde foi demolida a Casa de Detenção, em 8 de dezembro de 2022. Na ocasião foram implodidos os pavilhões 6, 8 e 9, este último palco do massacre de 111 presos, mortos pela PM em 2 de outubro de 1992.

A cerimônia de implosão foi comandada pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB). Nagashi Furukawa era o chefe da SAP e também esteve presente ao evento. A demolição da Casa de Detenção marcou simbolicamente o fim de uma era do sistema prisional de São Paulo.

Em 21 de setembro de 2003, Geraldo Alckmin inaugurou a primeira etapa do Parque da Juventude. A área faz divisa com antiga PFC (Penitenciária Feminina da Capital) e é de lá que os "ninjas" tentam, todos os dias, arremessar os aparelhos para os presos.

Em agosto deste ano, a PFC foi transformada em unidade masculina destinada aos presos do regime semiaberto. Eles vieram transferidos de Franco da Rocha, na Grande São Paulo. As presas foram removidas para o CPP (Centro de Progressão Penitenciária) do Butantã, na zona oeste.

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Investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime organizado), subordinado ao MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), apontam que o telefone celular é uma das principais armas dos presos ligados ao PCC.

É com o aparelho móvel que os integrantes da facção comandam, de dentro das celas, o tráfico de drogas e planejam ataques a bancos, atentados contra autoridades públicas, resgates, mortes de desafetos e outras atividades criminosas.

Primeiras ações foram em Tremembé

As primeiras ações dos "ninjas" foram registradas em setembro de 2020, no CPP de Tremembé, no Vale do Paraíba (SP). Eram arremessados centenas de telefones celulares, além de drogas e armas para os presos.

A juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, do DEECRIM-9 (Departamento Estadual de Execução Criminal-9), de São José dos Campos, disse à época que "as ocorrências se tornaram corriqueiras e faziam parte do cotidiano da unidade prisional, inclusive com disparos de arma de fogo".

Na avaliação da magistrada, "a situação comprometeu sobremaneira a manutenção da segurança e disciplina no interior do presídio e causou insatisfação no âmbito de quadro de funcionários". Na unidade cumprem pena os presos em regime semiaberto.

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De acordo com Sueli Zeraik, no início de janeiro de 2021 foram apreendidos 187 aparelhos de telefone celular durante uma blitz no período da saída temporária de final do ano dos prisioneiros. Os equipamentos entraram na unidade graças às ações dos "ninjas".

Muitos "ninjas" foram presos em flagrante e outros fugiram. A Delegacia Seccional de Taubaté registrou centenas de ocorrências. De acordo com Sueli Zeraik, as ações eram orquestradas e bem coordenados, envolvendo integrantes de facção criminosa dentro e fora das muralhas do presídio.

Em 20 de outubro de 2020, agentes apreenderam 162 telefones celulares, 191 baterias, 68 carregadores, 46 tabletes, 105 chips, 52 fones de ouvido, 49 cabos de entrada UBS, 46 tabletes de maconha, cinco papelotes de cocaína e dois de haxixe. Três "ninjas" conseguiram fugir.

Agentes penitenciários fizeram outra grande apreensão em 10 de setembro de 2020. Foram encontrados 160 telefones celulares, 217 carregadores, 189 fones de ouvido, 58 baterias, 63 chips, 100 comprimidos de ecstasy e porções de maconha e cocaína. Dois "ninjas" foram presos em flagrante.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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