Caso Gritzbach: PM prende cabo suspeito de matar delator no aeroporto
A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo identificou e prendeu hoje o cabo Dênis Antônio Martins, 40, acusado de ser um dos autores dos disparos que mataram o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, assassinado com 10 tiros de fuzis no Aeroporto Internacional de Guarulhos. O crime aconteceu em 8 de novembro do ano passado.
O militar é um dos 15 presos nesta manhã durante a Operação Prodotes, deflagrada para desarticular o envolvimento de PMs com narcotraficantes ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) a maioria da zona leste da capital e inimigos de Gritzbach.
Todos os outros 14 policiais presos atuaram, em algum momento, na escolta do empresário. São eles: Giovanni de Oliveira Garcia; Wagner de Lima Compri Eicardi; Leandro Ortiz; Adolfo Oliveira Chagas; Samuel Tillvitz da Luz; Romarks César Ferreira Lima; Jefferson Silva Marques de Souza; Talles Rodrigues Ribeiro; Erick Brian Galioni; Julio Cesar Scalett Barbini; Abraão Pereira Santana; Leonardo Cherry Souza; Thiago Maschion Angelim da Silva; e Alef de Oliveira Moura.
Investigação começou após denúncia em março de 2024
A investigação teve início em março de 2024, após denúncia anônima apontando vazamentos de informações sigilosas por parte de PMs da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) para favorecer criminosos do PCC, como divulgou com exclusividade esta coluna em 27 de dezembro de 2024.
Em outubro, a PM havia instaurado inquérito para investigar denúncias sobre o envolvimento de PMs com o PCC. Um grupo da facção sediado na zona leste paulistana recebia informações sigilosas para não ser preso nem sofrer prejuízos em operações policiais.
As investigações do inquérito se concentram em dois núcleos suspeitos de associação com líderes da facção. O primeiro era baseado dentro da Rota, unidade de elite da corporação. E o segundo em diversos batalhões, a maioria na zona leste da capital.
O inquérito aponta como beneficiados narcotraficantes do PCC, como Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, Cláudio Marcos de Almeida, o Django e Rafael Maeda Pires, o Japa, já mortos; além de Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, foragido; O advogado Ahmed Hassan Saleh também foi delatado pelo empresário e preso no último dia 17 pela Polícia Federal.
Todos eles eram acionistas da empresa de ônibus UPBus, da zona leste, investigada por ligação com o PCC. Cara Preta foi morto a tiros em dezembro de 2021 no Tatuapé. Gritzbach foi acusado de ser o mandante do assassinato dele. Django e Japa morreram na guerra interna da facção.
Segundo a investigação, o núcleo de PMs da Rota seria formado por policiais que serviram na AI (Agência de Inteligência) e tiveram acesso às informações sigilosas de operações policiais em andamento, principalmente às relacionadas a criminosos do PCC.
Oficial é investigado
Um dos alvos da investigação foi o capitão Raphael Alves Mendonça, que atuou na APMPGJ (Assessoria Policial Militar da Procuradoria Geral de Justiça) até junho do ano passado.
Ele serviu na Rota durante seis anos, foi comandante de pelotão, chefe da Agência de Inteligência e da PJMD (Polícia Judiciária Militar e Disciplina). O oficial foi transferido para o CPChoque (Comando de Policiamento de Choque) em setembro de 2022, para ocupar a função de chefe da Agência Regional de Inteligência.
O capitão não foi citado pelo autor da denúncia. Porém, a PM apurou que ele é amigo pessoal de diversos investigados no inquérito e responsável pela indicação deles para trabalhar na AI (Agência de Inteligência) da Rota. O oficial tem contato rotineiro com todos no serviço e até em festas nas casas deles.
Cabos e sargentos são alvos
Entre os militares amigos pessoais e de confiança do capitão estão quatro cabos. As investigações apontam que um deles, Vagner de Deus Leão, o Gato Grande, foi motorista do capitão, quando o oficial trabalhava na Rota e foi indicado por ele para atuar na Agência de Inteligência daquele batalhão.
O autor da denúncia anônima encaminhada à PM contou que Vagner divulgou diversas informações, inclusive dados de viaturas aos narcotraficantes Cara Preta, Django e Cebola, protegendo os negócios e também as pessoas de interesse desses criminosos.
Vagner seria dono do Rota's Bar e teria como sócio o cabo Jefferson Silva de Rossi, do 8º Batalhão (Tatuapé) que demonstra padrão de vida incompatível com os vencimentos na PM. Ele posta nas redes sociais fotos em barcos, lanchas, carros de luxo e resorts. Ambos teriam recebido quantias expressivas de Django e Cebola.
Na lista de investigados está ainda o sargento aposentado José Roberto Barbosa de Souza, o Mão de Rã, que serviu de 2008 na 2018 na Rota e trabalhou na seção de rádio. Quando era cabo, em 2022, candidatou-se a deputado federal, mas não foi eleito. Ele teria passado informações ao PCC e usado veículos da facção em seu comitê eleitoral.
Ainda na condição de cabo, ele trabalhou no mesmo período com o sargento Alexandre Aleixo Romano Cezário, o Pantera, na sessão de rádio da Rota, onde atuou de 2004 a 2012. Ambos atuaram como segurança na empresa de ônibus Transwolff, da zona sul paulistana, acusada de ligação com o PCC, e teriam passado informações para o narcotraficante Cebola.
Um terceiro sargento investigado, Marcelo Barbosa de Lima, o Barbosinha, trabalhou quase a carreira toda em batalhões da zona leste. Ele teria passado informações ao PCC e contratado PMs para fazer a segurança pessoal do narcotraficante Japa. A última unidade onde o sargento trabalhou foi no gabinete do comandante-geral.
Outro investigado é o soldado Alef de Oliveira Moura, que era da Rota e foi transferido para o 18º Batalhão, na zona norte. Ele foi identificado como um dos nove policiais militares que faziam escolta para Vinícius Gritzbach e desembarcou com ele no aeroporto de Guarulhos, no dia do crime. Eles voltavam de viagem de Maceió.
Emboscada e morte
As investigações contra esses PMs tiveram início em 17 de outubro deste ano, mais precisamente 23 dias antes da morte de Gritzbach, mas se intensificaram a partir de 8 de novembro - quando ele foi assassinado - já que a vítima havia contratado nove policiais militares para cuidar da segurança pessoal dele.
A Polícia Militar investigava se os militares da escolta de Gritzbach "falharam de forma proposital ou se receberam vantagem indevida para agir assim, pois sabiam o exato momento em que o empresário desembarcaria no aeroporto, tendo ocorrido ali sua emboscada e morte".
Ao todo foram investigados 15 policiais militares. Nove faziam a escolta de Gritzbach. Outros seis, sendo alguns da ativa e outros da reserva (aposentados), foram acusados pelo denunciante anônimo de repassar informações a líderes do PCC, todos rivais do empresário assassinado.
111 comentários
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Jose Ricardo Vidal Dias
A PM de São Paulo é um conglomerado de cri mi no sos.
Deivid Barbosa Oliveira
Uma vergonha, temos um cenário de horror com a criminalidade em alta e a PM apodrecendo com a associação aos criminosos. O governador apenas assiste e só faz espuma.
Virgilio Vettorazzo
A CORREGEDORIA da PM foi desmontada e politizada por Derrite e Tarcísio. Precisamos de ajuda de fora.