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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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General Villas Bôas elogia em livro senador flagrado com dinheiro na cueca

O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), o general da reserva Eduardo Villas Bôas e o comandante do Exército Edson Leal Pujol - Divulgação/Twitter de Chico Rodrigues
O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), o general da reserva Eduardo Villas Bôas e o comandante do Exército Edson Leal Pujol Imagem: Divulgação/Twitter de Chico Rodrigues

Colunista do UOL

05/03/2021 04h00

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Depois de passar quatro meses afastado, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) voltou ao Congresso e lançou um livro de 230 páginas com seus pronunciamentos em 2019 e 2020. "Chico Rodrigues: um homem compromissado com a verdade, o Brasil e Roraima" conta ainda com prefácio do general Eduardo Villas Bôas e teve uma tiragem de 500 exemplares. Para o ex-comandante do Exército, o "perfil de atuação" de Chico Rodrigues é "marcado pela defesa de interesse do Brasil e de Roraima".

Rodrigues era vice-líder do governo Bolsonaro quando foi alvo de uma operação da Polícia Federal, em outubro. Ao longo da busca, autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o senador foi flagrado com R$ 30 mil em dinheiro vivo na cueca, algumas notas estavam até entre suas nádegas.

Depois do episódio, Rodrigues pediu afastamento de 120 dias e o caso foi enviado ao Conselho de Ética do Senado, mas ainda não foi analisado. A investigação apura desvios de recursos destinados ao combate à pandemia com emendas parlamentares para Roraima.

Ao retomar o mandato, o senador distribuiu o livro de modo discreto nos últimos dias pelo Senado. No prefácio, datado de 26 de janeiro deste ano, o general Villas Bôas lembra que conheceu o senador entre 2001 e 2002, quando estava lotado no gabinete do Comandante do Exército.

chico rodrigues - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"Na carreira política, que já completa mais de trinta anos, todos dedicados a Roraima, cumpriu mandatos de vereador, deputado federal, vice-governador e, por fim, governador. Essa trajetória, por si só, evidencia o reconhecimento da população roraimense pelas realizações e dedicação aos interesses do estado", escreveu Villas Bôas.

O general ainda disse se sentir "distinguido pelo privilégio de escrever essas linhas, mais ainda pela oportunidade de agradecer a cooperação que nos prestou durante meu comando". Por fim, Villas Bôas disse ainda "desejar-lhe êxito no prosseguimento do mandato, sempre marcado de grandes realizações".

A obra foi impressa a partir da cota gráfica a que os parlamentares possuem direito junto ao Senado. É necessário solicitar para a Secretaria de Editoração e Publicações da Casa e depois que o orçamento for aprovado ele é debitado da cota anual de R$ 8,5 mil atribuída a cada parlamentar. No livro de Chico Rodrigues, consta que ele imprimiu os exemplares desse modo.

Em fevereiro deste ano, um outro livro com depoimentos de Villas Bôas gerou polêmica ao falar de "impunidade". Na obra "General Villas Bôas: conversa com o comandante", de Celso de Castro, o militar narrou que, uma série de tuítes, publicado por ele, antes do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Lula, foi redigido em conjunto com integrantes do Alto Comando do Exército.

Na ocasião, em 2018, Vilas Bôas tuitou: "Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?".

E, na sequência, acrescentou: "Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais".

Depois da divulgação do livro, já este ano, o ministro Edson Fachin disse que é "intolerável e inaceitável pressão sobre o Judiciário". Ao ler as declarações, Villas Bôas, ironizou: "três anos depois".

O senador Chico Rodrigues informou, por nota, à coluna que colocou o dinheiro na cueca porque não sabia se a situação se tratava de "uma operação policial ou de uma ação de uma quadrilha especializada".

O dinheiro apreendido foi declarado em seu imposto de renda e seria usado para pagamento de funcionários de uma empresa da família. O senador negou que parte do dinheiro tenha sido apreendida em suas nádegas.

Procurado pela coluna, Villas Bôas não retornou contato.