Topo

Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Assessores de Jair Bolsonaro na Câmara fizeram depósitos para ex-cunhada

Colunista do UOL

18/03/2021 14h14Atualizada em 18/03/2021 15h53

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

No período em que foi registrada como assessora do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), recebeu seis depósitos de alguns dos principais funcionários dele na época da Câmara dos Deputados.

O então deputado federal Jair Bolsonaro a empregou em seu gabinete por oito anos (de setembro de 1998 a novembro de 2006). Ela é irmã de sua segunda mulher, Ana Cristina Siqueira Valle. Logo em seguida, Andrea foi nomeada no gabinete de Carlos, onde Ana Cristina era chefe de gabinete.

Dados do extrato bancário dela, anexados na investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro MP-RJ, mostram que, entre abril e maio de 2008, Andrea recebeu um total de R$ 1.115 em seis depósitos em dinheiro vivo numa conta que ela tinha no Bradesco.

Três desses depósitos, num total de R$ 445, foram feitos por Jorge Francisco, ex-chefe de gabinete de Bolsonaro. O primeiro foi no dia 9 de abril e os outros dois ocorreram uma semana depois. Francisco morreu em março de 2018 e é pai do ministro Jorge Antonio de Oliveira Francisco, do Tribunal de Contas da União. Antes do TCU, ele comandou a Secretaria Geral da Presidência da República no governo Bolsonaro.

Telmo Broetto, outro antigo assessor de Bolsonaro, fez mais três que somaram R$ 670. Dois em abril e um no dia 6 de maio de 2008. Hoje ele consta como assessor do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e recebe um salário de R$ 15,6 mil.

Os depósitos coincidem com o mesmo período em que Ana Cristina deixou de trabalhar com Carlos no Palácio Pedro Ernesto. Ela foi exonerada em abril de 2008, já separada de Jair Bolsonaro.

Ao mesmo tempo em que ela recebe os valores em uma conta do Bradesco, Andrea sacava, em espécie, mensalmente quase todo o salário que recebia da Câmara dos Vereadores em uma outra conta do Banco do Brasil.

Anatomia da rachadinha

Na segunda-feira, o UOL revelou que Ana Cristina ficou com todo o dinheiro acumulado em uma conta em que Andrea aparecia como titular para receber o salário como assessora de Bolsonaro. O saldo era, na época, de R$ 54 mil - quantia equivalente a R$ 110 mil, em valores de hoje.

Andrea é investigada no procedimento que apura prática de "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Depois de constar como assessora de Jair e Carlos, ela ficou mais 10 anos lotada como funcionária de Flávio. Em todo o período, as pessoas que conviveram com ela contam que Andrea viveu de bicos, faxinas e participa de campeonatos de fisiculturismo.

O UOL teve acesso às quebras de sigilo no segundo semestre de 2020. Em fevereiro, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou a decisão que permitiu ao MP-RJ usar os dados resultantes das quebras de sigilos no processo contra Flávio, mas o Ministério Público Federal recorreu junto ao STF (Supremo Tribunal Federal).

A reportagem questionou Andrea sobre a operação, que disse apenas: "Não tenho nada para conversar com vocês". O advogado Magnum Cardoso, que representa Ana Cristina, afirmou que "a defesa não irá se manifestar tendo em vista que o procedimento tramita sob sigilo." O advogado diz ainda "repudiar veemente o vazamento dessas informações, algo que vem se tornando rotina em se tratando desse procedimento".