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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Em vídeo, Bolsonaro demonstrou aposta em imunidade de rebanho contra vacina

Colunista do UOL

09/06/2021 04h00

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Uma das principais linhas de investigação da CPI da Pandemia no Senado é como o governo Bolsonaro apostou na teoria de que a livre circulação do novo coronavírus iria gerar uma imunidade natural de rebanho pela ampla contaminação das pessoas. Um discurso do presidente Jair Bolsonaro em um evento, em outubro do ano passado, no Palácio do Planalto, reforça essa suspeita.

No dia 19 de outubro, Bolsonaro discursou em um evento sobre a situação da covid-19 e reclamou do preço das vacinas, além de dizer que quem já tinha contraído a doença não precisaria se vacinar. O discurso foi gravado em vídeo e postado nas redes sociais do presidente. Procurado, o Palácio do Planalto não retornou.

"A vacina contra o covid, como cabe ao Ministério da Saúde definir essa questão, e já foi definida, ela não será obrigatória", afirmou Bolsonaro. Depois, continuou: "Isso não é a toque de caixa, nem de uma hora para a outra; e nós sabemos que muita gente contraiu (covid-19) e nem sabe que contraiu, já está imunizado; vão obrigar essa pessoa a tomar essa vacina? Que inclusive por parte dessa fonte custa mais de 10 dólares, por outro lado, o nosso lado custa menos de quatro".

Na semana em que Bolsonaro fez esse discurso, o Ministério da Saúde ia assinar um contrato de vacinas com o Instituto Butantan e o presidente anunciou publicamente, dias depois desse evento no Palácio, que tinha determinado que Pazuello desfizesse o contrato.

No entanto, no depoimento que prestou à CPI, o ex-ministro Eduardo Pazuello falou mais de uma vez que nunca discutiu sobre vacina com o presidente e que Bolsonaro não falou para desfazer o contrato. "Nunca o presidente da República me mandou desfazer qualquer contrato, qualquer acordo com o Butantan, em nenhuma vez. Eu gostaria de colocar aqui uma coisa aqui diretamente, ou por documento ou por qualquer um", afirmou Pazuello.

Evento divulgou outro medicamento sem eficácia

No mesmo evento, em outubro do ano passado, Bolsonaro também admitiu que discutiu sobre o uso de cloroquina com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.

"Fui massacrado pela mídia, não tem problema, eu tenho que estar com a minha consciência em paz e quem criticava a hidroxicloroquina não apresentava alternativas. Eu falei para o Mandetta, certa vez, por que que no seu protocolo só pode ser usada a hidroxicloroquina quando o paciente está em situação grave? Deixa o médico decidir e cada médico pode decidir de maneira diferente do outro. Lógico que foi um ponto de atrito, mas não foi o mais importante", afirmou.

O presidente fez as declarações em um evento junto com o ministro Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, para apresentar um estudo que indicaria o uso do medicamento nitazoxanida, popularmente conhecido como 'Annita', em pacientes na fase precoce da covid-19.

No entanto, em janeiro deste ano, em resposta a um requerimento da deputada Sâmia Bonfim (Psol-SP), o Ministério da Saúde informou que "a nitazoxanida não consta nas orientações do Ministério da Saúde para o tratamento da Covid-19, e também não se encontra incluída na Rename 2020 (Relação Nacional de Medicamentos), de forma que esse medicamento não é adquirido ou financiado com recursos federais do SUS".

O remédio, que é um vermífugo, foi apresentado como algo que poderia reduzir a carga viral. No entanto, uma reportagem da Folha mostrou que o próprio estudo concluiu que a redução não significou alívio dos sintomas da doença.