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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Ramagem deixará Abin e vai se filiar ao PL para disputar vaga a deputado

Alexandre Ramagem em Brasília - Reprodução
Alexandre Ramagem em Brasília Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

15/03/2022 04h00

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O diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem, vai se filiar ao PL até o fim de março para ser candidato a deputado estadual ou federal pelo Rio de Janeiro. Com isso, ele deve deixar a direção da agência e a carreira na PF (Polícia Federal) até abril para disputar a eleição de 2022.

A coluna já havia adiantado no ano passado que ele estudava a possibilidade de disputar uma vaga no Congresso Nacional. O PL é o mesmo partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro vai disputar a reeleição.

Nos últimos dias, ele concedeu uma entrevista a um canal do YouTube. Na ocasião fez críticas a Sergio Moro e disse que o ex-ministro da Justiça "traiu" o presidente Jair Bolsonaro. "O Moro no começo pareceu um grande acerto, uma grande esperança. Depois foi uma grande decepção e o que se viu foi uma deliberada traição. Uma traição não ao presidente, mas à sociedade", disse Ramagem a um canal.

Desde abril do ano passado, já pensando na carreira política, Ramagem passou a alimentar frequentemente seus perfis nas redes sociais. E, diferentemente do perfil discreto de antecessores no cargo, passou a fazer postagens frequentes em defesa do presidente Jair Bolsonaro e até se posicionado em assuntos que não estão diretamente relacionados à Abin, como a questão do voto impresso.

Em maio de 2021, Ramagem postou: "Voto auditável significa segurança ao pleito eleitoral e evolução das urnas eletrônicas. Assegura integridade e transparência aos resultados do sufrágio universal. Compromisso com a representatividade popular e a democracia". Essa atitude pública de Ramagem é vista pelos pares como se ele já tivesse feito a opção pelo caminho da política. Para disputar a eleição, ele precisará deixar o cargo público no ano que vem.

Carreira na PF

Delegado da PF, Ramagem atuou na coordenação de grandes eventos no Brasil: Conferência das Nações Unidas Rio +20 (2012); Copa das Confederações (2013); Copa do Mundo (2014); e Jogos Olímpicos do Rio (2016).

A aproximação com Bolsonaro ocorreu a partir do segundo turno da eleição de 2018, quando o delegado comandou a segurança pessoal do então presidente eleito. Até o período em que se tornou coordenador da segurança do presidente, Ramagem era visto como um delegado técnico.

Em 2017, o delegado atuou em investigações da chamada operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Ele coordenou a operação "Cadeia Velha" que prendeu a cúpula do MDB na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Foram presos, na época, os ex-deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi.

Após o período na segurança de Bolsonaro, no fim de 2018, Ramagem foi nomeado superintendente regional da PF no Ceará, mas acabou chamado para o cargo de assessor especial da Secretaria de Governo da Presidência da República, na função de auxiliar direto do então ministro Carlos Alberto Santos Cruz.

Com a saída de Santos Cruz, Ramagem assumiu a Abin em julho de 2019. Nessa época, começaram os rumores sobre a existência de uma "Abin paralela" que produziria dossiês com informações sobre adversários do presidente. O governo sempre negou a informação. No entanto, outras polêmicas surgiram.

Em abril de 2020, Bolsonaro e o então ministro da Justiça, Sergio Moro, romperam depois que o presidente decidiu que queria Ramagem como diretor-geral da PF. Moro era contra. Para o ex-juiz, a opção era uma interferência política do presidente na PF. Há um inquérito no STF sobre o caso.

Já no segundo semestre de 2020, Ramagem esteve com o ministro Augusto Heleno, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), em uma reunião com as advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). No encontro, foi discutida a suspeita levantada pelas advogadas de que dados do senador e da família foram acessados ilegalmente na Receita Federal para produzir relatórios no Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).