Topo

Juliana Dal Piva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Relatos de sobreviventes sepultam falácias de quem ainda defende milícias

Colunista do UOL

06/09/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Apesar de tudo o que se descobriu sobre as milícias no Rio de Janeiro, não é incomum encontrar pessoas públicas ou mesmo autoridades que ainda defendam a falsa ideia de que esses grupos oferecem segurança ou, pior, que são menos nocivos ou perigosos que organizações criminosas de traficantes de drogas. A reportagem especial Vizinhos do mal (veja acima) —publicada no UOL na quarta-feira (31)— dá voz a pessoas que sepultam de vez esses argumentos falaciosos.

O jornalista Igor Mello traz à tona, pela primeira vez, depoimentos de pessoas incluídas no Provita-RJ (Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas Ameaçadas do Rio de Janeiro), órgão criado por lei em 1999. Elas relatam o que aconteceu com suas vidas depois que denunciaram crimes de milicianos.

É difícil dizer o que choca mais nos relatos.

Os depoimentos deixam evidente como esses grupos criminosos ganham força. É por meio de diversas conexões com autoridades que milicianos sustentam seu poder para ganhar dinheiro, além de decidir quem vive e quem morre de acordo com suas próprias regras.

Uma mulher foi agredida e quase tomou um tiro na cabeça por ter descoberto provas de assassinatos de milicianos. Um casal se viu apontado como suspeito de um assassinato porque milicianos resolveram matar um dependente químico que entrou na casa deles. Um homem que trabalhou em uma das cooperativas de transporte e não quis se envolver com as organizações criminosas também acabou perseguido e teve que abandonar a própria casa.

Tudo isso só acontece porque esses grupos agem com a certeza de que ficarão impunes e assegurados por conexões que permitem que os milicianos saibam quando alguém os denuncia. Essa situação mostra o tamanho do fosso em que o estado do Rio de Janeiro está no que diz respeito às milícias. Uma das pessoas ameaçadas relata o tamanho do envolvimento do batalhão de polícia da região onde morava —segundo ela, a maioria dos policiais estava envolvida com a milícia local.

Há muito tempo o combate à corrupção e à violência policial precisam ser prioridades do estado do Rio. No entanto, de tempos em tempos, surgem discursos violentos que não previnem o avanço do crime organizado e ainda enganam uma população amedrontada que busca viver em um ambiente de maior segurança.

Por isso, torna-se tão essencial ouvir das vítimas a realidade do que são as milícias. Especialmente agora, a um mês de uma eleição que novamente pode dar espaço para o combate ao crime organizado ou dar mais espaço para quem não acha que as milícias representam uma ameaça aos cidadãos do Rio.