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Policial que negociou rendição de Jefferson diz que 'vestiu um personagem'
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A coluna teve acesso a uma mensagem escrita por Vinícius Secundo, agente de operações táticas da Polícia Federal, responsável pela rendição do político de extrema direita Roberto Jefferson (PTB-RJ) no domingo (24). O agente disse que "vestiu um personagem" durante as negociações. Ele apareceu em um vídeo rindo e conversando amistosamente com Jefferson mesmo depois de o ex-deputado ter atirado mais de 20 vezes contra os policiais.
"A responsabilidade da negociação era enorme, não havia condições de fazer uma entrada tática com tantas pessoas na casa e a informação que havia várias armas! Virou um gerenciamento de crise, se sai um inocente ferido ou morto, seria uma tragédia e nome da PF na lama! Eu vesti um personagem para desacelerar a situação da melhor maneira possível", escreveu o policial aos colegas.
O agente escreveu que é o chefe-substituto do GPI (Grupo de Pronta Intervenção) e informou ser um negociador formado pelo COT (Comando de Operações Táticas), a tropa de elite da Polícia Federal.
A coluna apurou com alguns integrantes da PF do Rio que a conversa gravada no vídeo se deu depois da rendição. "Aquela conversa do Vinicius não era negociação. Estava tudo terminado àquela altura. Apenas um papo entre bolsonaristas", contou um agente. Segundo esse policial, a mensagem tenta criar uma narrativa para melhorar a imagem após o vídeo ter sido divulgado.
Na mensagem aos colegas, Vinícius Segundo ainda comemorou que "tudo terminou bem sem ninguém ferido ou morto e o perpetrador preso". Secundo afirmou que "não podia colocar todos os detalhes" e completou que "se a equipe do GPI estivesse no momento da troca de tiro, o resultado poderia ser outros, mas chegamos com uma situação de gerenciamento de crise, aí toda conduta muda!".
A mensagem do policial foi encaminhada a vários grupos de policiais depois que começou a circular um vídeo das negociações. Nas imagens, o policial aparece em uma conversa amistosa com Jefferson. Dois agentes ficaram feridos após Jefferson atirar mais de 20 vezes e lançar granadas contra os policiais.
Mais cedo, ao comentar a prisão de Jefferson, o presidente Jair Bolsonaro (PL) havia dito que "o tratamento dispensado a quem atira em policial é bandido". No entanto, o vídeo mostra o policial sendo cordial com o ex-deputado —ele chega a dizer: "O que o senhor precisar a gente vai fazer".
O agente que negocia com o ex-parlamentar diz que os colegas que foram cumprir a ordem de prisão são da área de inteligência, "burocráticos", trabalham em escritório e "não são operacionais".
A mensagem, porém, foi recebida com desconfiança por outros agentes da PF. Na avaliação de alguns policiais, o texto dele não explica por que precisou falar mal dos outros colegas durante a conversa com Jefferson e nem o motivo de ter permitido que a ocorrência fosse filmada por pessoas que não são da polícia e que isso gerasse um possível uso de propaganda política.
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