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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Investigada, ex-mulher de Bolsonaro muda para Noruega e colabora com creche

Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro, na Noruega - reprodução redes sociais
Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro, na Noruega Imagem: reprodução redes sociais

Colunista do UOL

07/01/2023 04h00

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A advogada Ana Cristina Valle (PP-DF), segunda mulher do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) está trabalhando como colaboradora de uma creche na cidade de Halden, na Noruega.

Ela disputou uma vaga a deputada distrital, mas teve apenas 1.485 votos e não conseguiu uma cadeira na Assembleia do DF (Distrito Federal). Depois disso, três dias antes do segundo turno das eleições de 2022, ela embarcou para Noruega e não retornou mais ao Brasil.

Como a coluna adiantou em outubro, Cristina decidiu viajar sem uma data definida para voltar. Em dezembro, ela chegou a gravar vídeos dizendo que estava de férias, mas na sexta-feira (6) gravou um novo vídeo em seu perfil no Instagram dizendo que estava voltando do trabalho em meio a uma tempestade de neve.

"A vida aqui também não é fácil não. Acha que é só glamour? Não. Saindo do trabalho", disse. A coluna procurou Cristina, mas ela não retornou. Segundo interlocutores de Cristina, como ela não é totalmente fluente em norueguês, ela está fazendo uma espécie de estágio em uma escola infantil de Halden.

Investigações

Ela é atualmente investigada pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) junto com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) devido ao esquema de desvio de dinheiro conhecido por rachadinha. Além disso, ela também é investigada pela PF (Polícia Federal) devido à compra de uma mansão de R$ 3 milhões em Brasília no ano passado com o uso de um laranja, conforme foi revelado pelo UOL.

Interlocutores de Cristina também contaram que ela está pensando em vender o imóvel em Brasília. A ex-mulher de Bolsonaro relatou que teme o aprofundamento das investigações após a derrota de Jair Bolsonaro e a saída dele do poder.

Cristina está com o sigilo bancário quebrado junto com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) no procedimento que apura a nomeação de funcionários fantasmas e da prática ilegal de rachadinha no gabinete de Carlos.

Ela foi chefe de gabinete do ex-enteado de 2001 até 2008. Nesse período, ao menos sete familiares dela foram nomeados no gabinete de Carlos. Todos também funcionários fantasmas e agora investigados pelo MP-RJ.

Depois que se separou de Bolsonaro, Cristina obteve cidadania na Noruega no período em que viveu por lá entre 2009 e 2014. Por isso, ela agora está com questionamentos sobre a cidadania brasileira junto ao Ministério da Justiça já que na modalidade em que ela obteve não é possível ficar com duas nacionalidades.

Ao adquirir uma nova cidadania na Noruega, pelo que prevê a Constituição, ela perdeu automaticamente a brasileira. No entanto, a formalização depende de um processo administrativo do MJ.

Em julho, a coluna obteve documentos do órgão fiscal da Noruega que mostram que ela consta como cidadã norueguesa e com status de "residente". Ela registrou um endereço naquele país no dia 11 de abril de 2011. Pouco depois, ela casou com o norueguês Jan Raymond Hansen. Os dois agora, porém, estão separados.

Em 2018, Cristina foi candidata a deputada federal pelo Podemos. Fez 4.555 votos e não conseguiu se eleger. Na época, ela não informou nada sobre a cidadania na Noruega e também omitiu da Justiça Eleitoral os bens que possui naquele país. Na ocasião, o caso chegou a ser denunciado para a Justiça Eleitoral, mas o procurador Fábio Aragão arquivou o procedimento sem requisitar informações.