Trump volta a apostar na estratégia de lei e ordem que deu errado em junho
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O presidente Donald Trump voltou a apostar numa estratégia arriscada que se mostrou negativa para a sua popularidade durante os protestos de maio e junho: usar tropas federais para reprimir manifestantes e policiar grandes cidades americanas.
Trump enviou tropas do Departamento de Segurança Interna para Portland, no estado do Oregon. Agentes já estariam de prontidão em Chicago, no Illinois. O presidente americano ameaçou mandar agentes para a Filadélfia (Pensilvânia), Detroit (Michigan) e Nova York. Todos esses municípios são governados por democratas e apresentaram dados recentes de crescimento da violência urbana.
Em Portland, agentes federais usaram gás lacrimogêneo nesta quarta-feira contra manifestantes e o prefeito da cidade, Ted Wheeler. Segundo Wheeler, que criticou Trump, os agentes federais criaram tensões e agravaram o problema.
Governadores e prefeitos que entraram na mira de Trump ainda não solicitaram ajuda federal. Todos consideram ilegal a intenção da Casa Branca.
A prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, afirmou que Trump "luta por sua sobrevivência", politizando a segurança pública a fim de tentar se reeleger. Em entrevista à rede de TV CNN, ela afirmou que não admitirá o uso de "agentes federais secretos" para prender cidadãos em Chicago.
O movimento de Trump faz parte da estratégia de se apresentar como o presidente "da lei e da ordem", buscando recuperar votos entre eleitores conservadores que migraram para o democrata Joe Biden, que hoje lidera as pesquisas sobre a eleição de 3 de novembro.
Trump deu início nesta semana a uma mudança de estratégia eleitoral. Após três meses, ele retomou os briefings na Casa Branca com um figurino menos agressivo. Fez pronunciamentos e respondeu a perguntas de jornalistas num tom mais moderado e realista, apesar de repetir mentiras e distorcer dados sobre a pandemia e a sua gestão da crise sanitária.
Em entrevista à CNN, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, disse que era "inconstitucional" o envio de tropas federais sem requisição das autoridades locais. O prefeito afirmou que recorrerá à Justiça para barrar a ação desses agentes se eles pisarem em Nova York.
Em 1º de junho, Trump ordenou o uso de tropas federais para reprimir manifestantes em frente à Casa Branca, abrindo espaço na praça Lafayette para fazer uma foto com uma Bíblia na Igreja de São João. Na época, a repressão contribuiu para a queda da popularidade do republicano.
Os EUA são uma república federativa na qual os estados e municípios têm maior autonomia em relação à União na comparação com o Brasil, por exemplo. A segurança pública é tarefa dos municípios e dos estados. A ação repressiva federal em junho foi criticada por políticos, jornalistas e militares, sendo comparada ao modo como agiriam ditadores de repúblicas de bananas. Daí o risco de o movimento trumpista virar um tiro pela culatra.
Trump quer usar tropas federais para combater o aumento da criminalidade em cidades governadas por prefeitos do Partido Democrata, como Ted Wheeler, Lori Lightfoot e Bill de Blasio. O presidente difunde a ideia de que esses políticos democratas são fracos na segurança pública e agem de modo proposital para prejudicar os republicanos nas eleições.
No mês de junho, houve crescimento de 130% em tiroteios na cidade de Nova York na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo o departamento de polícia local, também aumentaram assassinatos (30%), assaltos (118%) e roubo de carros (51%).
Bill de Blasio disse que esses dados se devem à pandemia, que tornou mais difícil o trabalho da polícia. O prefeito disse acreditar que a alta seja passageira.
Trump tira proveito político das estatísticas para adotar uma reação dura, mas há críticas de que o uso de tropas federais para reprimir manifestantes e fazer policiamento abra um precedente autoritário de intervenção federal nos estados e nas cidades americanas.
Essa estratégia tende a aprofundar divisões políticas nos Estados Unidos. Isso deu certo para Trump em 2016, mas há uma pandemia no meio do caminho. Os casos devem ultrapassar a marca dos quatro milhões nesta quinta-feira. Estados do sul e do oeste sofrem estresse da rede hospitalar com mais internações. Há crescimento localizado de taxas de mortalidade por covid-19.
Nesse contexto, a estratégia de "lei e ordem", algo diversionista, talvez não seja eficiente nas eleições de 2020. O coronavírus parece ser um problema maior para os eleitores americanos do que as estatísticas de segurança pública em algumas grandes cidades do país.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.