Trump ameaça processar Nevada, 8º estado a aprovar 100% de voto via correio
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O presidente Donald Trump ameaçou ir à Justiça contra a decisão do Poder Legislativo do estado de Nevada que prevê 100% da votação via correio. O estado decidiu enviar cédulas a todos os eleitores por meio do serviço postal.
Nevada é o oitavo dos 50 estados americanos a permitir que todos os eleitores votem pelo correio. A maioria dos estados mescla essa modalidade com a votação presencial, que pode ser antecipada ou na data das eleições (3 de novembro).
Em tuíte na manhã desta segunda-feira, Trump classificou de "golpe tarde da noite" a decisão do Legislativo de Nevada, tomada no domingo. Segundo o presidente, os democratas estão "usando a covid para roubar o estado" e impedir a vitória dos republicanos. "Vejo vocês na Justiça", bradou na rede social.
Trump vem atacando há meses a possibilidade de votar pelo correio, uma das modalidades no sistema eleitoral americano. Cada um dos 50 estados possui as suas próprias regras eleitorais. A pandemia de coronavírus tem estimulado estados a aumentar a cota de votos pelo correio e também a incrementar o comparecimento físico antecipado a uma seção eleitoral. Numa pandemia, são maneiras de diminuir filas e aglomerações no dia das eleições.
Além de Nevada, os estados da Califórnia e Vermont decidiram enviar cédulas a todos os eleitores registrados para votar. Colorado, Havaí, Oregon, Utah e o estado de Washington já têm tradição nesse tipo de voto.
Na última semana, Trump subiu muito o tom contra o voto postal. Ele chegou a sugerir na semana passada que as eleições de 3 de novembro fossem adiadas, o que gerou reações contrárias até no Partido Republicano.
A data das eleições é fixada por lei do Congresso americano. Com maioria democrata na Casa dos Representantes, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, não há chance de mudança. Tampouco os republicanos, com maioria no Senado, desejam a alteração. Nem durante a Guerra Civil (1861-1865) ou na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) houve adiamento da eleição.
Além da disputa presidencial, haverá eleições para os governos de 11 Estados e dois territórios, um terço do Senado e todas as 435 vagas na Câmara dos Representantes.
Os ataques de Trump ao voto via correio soam como uma desculpa antecipada para uma eventual derrota. As pesquisas mostram dianteira consistente do democrata Joe Biden no voto nacional e nos estados decisivos para obter maioria no Colégio Eleitoral.
Mas essas críticas enfraquecem a credibilidade do sistema eleitoral e, por consequência, a democracia americana. É cada vez maior o debate público sobre a forma autoritária como Trump exerce a Presidência e os danos que isso causa às instituições do país.
Em entrevista recente à rede de TV Fox News, o presidente não se comprometeu a aceitar o resultado da eleição _uma tradição americana é o perdedor reconhecer o veredito das urnas. Mas Trump disse na semana passada que poderia até questionar o resultado na Justiça, no contexto dos ataques ao voto via correio. Apesar da tradição de lisura nesse tipo de voto, Trump diz que a modalidade propiciará enormes fraudes.
A atitude presidencial faz parte de uma estratégia diversionista para não enfrentar o principal problema real do país: o coronavírus. A resposta do republicano à pandemia é reprovada por dois terços dos americanos, indicam as pesquisas. A crise sanitária vem se agravando nos EUA.
Trump em choque com cientistas
No fim de semana, em entrevista à rede de TV CNN, a coordenadora da força-tarefa da Casa Branca para combater a covid-19, a médica Deborah Birx, afirmou que os EUA entraram numa nova fase da pandemia, mais abrangente e grave do que na primavera. Agora, que é verão no Hemisfério Norte, Birx disse que o coronavírus se espalhou por centros urbanos e rurais por todo o país.
Nesta segunda, Trump deu um puxão de orelhas em Birx no Twitter. Disse que ela "mordeu a isca" após ter sido criticada pela presidente da Câmara dos Representante, a democrata da Califórnia Nancy Pelosi. Segundo Trump, ao admitir que a pandemia se agravou, Birx atirou no próprio governo. "Patético", escreveu na rede social.
O médico Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, também voltou a entrar na mira de Trump no Twitter. No domingo, o presidente disse que Fauci errou ao dizer no Congresso que a quarentena mais eficiente da União Europeia foi a responsável pela diferença de casos na comparação com os Estados Unidos, número um no planeta.
Num quadro sanitário que dinamita a estratégia eleitoral de Trump, resta a ele se apoiar em teorias conspiratórias ou na simples mentira, como afirmar que os EUA lidam com a pandemia melhor do que países europeus. Os números apontam justamente o contrário.
Entrar em choque com cientistas da força-tarefa da Casa Branca não parece ser um caminho eleitoral inteligente. As pesquisas mostram que os americanos confiam muito mais em Fauci e Birx do que em Trump quando se trata da pandemia.
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