Diagnóstico enfraquece discurso de Trump sobre "gripezinha" e ajuda Biden
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O presidente Donald Trump colheu os resultados de sua negligência e irresponsabilidade ao fazer comícios em plena pandemia, desprezar o uso da máscara e minimizar o coronavírus. Ele e a primeira-dama Melania Trump contraíram covid-19 e deram início a uma quarentena. O democrata Joe Biden poderá se beneficiar eleitoralmente.
O episódio é negativo para a narrativa política que Trump tentou construir, dizendo que os Estados Unidos (EUA) estavam virando a página da covid-19. O coronavírus chegou ao coração da Casa Branca e terá impacto forte na campanha eleitoral.
O primeiro impacto é positivo para Joe Biden, candidato democrata que tem usado máscara e feito atos de campanha de acordo com normas sanitárias. Biden tem alertado os americanos para o risco de uma doença que já matou mais de 208 mil pessoas nos EUA.
O democrata, que esteve perto de Trump no debate desta terça, chegou a ser criticado com ironia pelo presidente por usar máscara com frequência. Como não estava de máscara no confronto entre os dois, Biden fez o teste na manhã desta sexta. A esposa dele, Jill, também se submeteu a um exame. Por volta das 13h de Brasília, saíram os resultados negativos dos testes de ambos.
No Twitter, o democrata escreveu uma mensagem para o adversário às 9h45 no horário de Brasília: "Jill e eu enviamos nossos pensamentos para que o presidente Trump e a primeira-dama Melania tenham uma rápida recuperação. Continuaremos a orar pela saúde e segurança do presidente e sua família".
Do ponto de vista político, o episódio mostra que Biden estava certo ao alertar o país sobre os riscos da doença. O democrata pode colher benefícios políticos nos estados decisivos do meio-oeste nos quais ele e Trump vinham fazendo campanha. Esses estados são fundamentais no Colégio Eleitoral, onde é preciso ter, no mínimo, maioria absoluta (270) entre os 538 delegados a fim de conquistar a Casa Branca.
Trump ficará impedido de fazer campanha em estados decisivos na reta final das eleições de 3 de novembro. O próximo debate presidencial, previsto para 15 de outubro em Miami, pode ser suspenso. É improvável que Trump esteja liberado do ponto de vista médico para comparecer e voltar a fazer comícios.
Trump pode usar covid-19 a seu favor se mantiver quadro leve
A evolução do estado clínico de Trump será fundamental para ditar os impactos políticos. Se ele mantiver um quadro leve, certamente tentará dizer que estava certa a sua narrativa de minimizar a doença. Por ora, a Casa Branca diz que ele tem sintomas leves, parecidos com o de uma gripe.
Mas, aos 74 anos e clinicamente obeso (110 kg), ele está no grupo de risco. Uma evolução clínica com sintomas médios ou graves pode causar mais dano político aos planos do republicano para se reeleger.
No momento, a Casa Branca informa que Trump pretende continuar governando, mas uma piora no seu estado de saúde poderá obrigá-lo a transferir o poder para o vice Mike Pence, que fez um teste hoje com resultado negativo.
Há a suspeita de que uma assessora de Trump, Hope Hicks, tenha transmitido o vírus ao presidente. Mas o contrário também pode ter acontecido. Trump participou do debate, fez comício em Minnesota, viajou para Nova Jersey e se reuniu com diversas pessoas sem usar máscara. Outras pessoas na Casa Branca podem ter se contaminado. Funcionários estão fazendo testes.
Esse episódio resume com perfeição a negligência de Trump com a própria saúde e a das demais pessoas. O presidente mais vigiado do mundo correu riscos por cálculo político e contraiu a doença que ele tanto minimizou. Donald Trump esteve errado o tempo todo na forma como tratou publicamente e se comportou pessoalmente em relação à covid-19.
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