Nem o FBI consegue convencer Trump a ser contra o racismo de supremacistas
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O presidente Donald Trump aposta no racismo e na intimidação de eleitores de Joe Biden para tentar se reeleger como chefe dos Estados Unidos (EUA). E nem o FBI é capaz de demovê-lo da estratégia perigosa, que vem sendo escalada e pode gerar atos violentos no país.
Na última terça-feira, Trump foi instado pelo mediador do debate com Biden, o jornalista Chris Wallace, a condenar supremacistas brancos. O FBI, que é a polícia federal dos EUA, já deu informes ao Congresso de que a maior ameaça à segurança nacional do país hoje vem da parte de manifestantes da extrema-direita que são supremacistas brancos.
Trump se recusou a condenar esses manifestantes e disse que enxergava uma violência maior da parte da esquerda. Cobrado por Biden e Wallace a condenar os racistas, o presidente respondeu com um lema do grupo extremista de direita "Proud Boys" (Garotos Orgulhosos, em inglês). "Dê um passo para trás e se prepare", disse Trump, numa tradução livre. O bordão ("stand back and stand by") é uma palavra de ação que tem o significado de estar pronto para uma luta física.
Após o comentário de Trump, o grupo "Proud Boys" postou comentários nas redes sociais insinuando que o presidente dera ordem para ação física. No Facebook, houve uma enxurrada de manifestações da extrema-direita dando apoio à fala Trump, vendo-a como um encorajamento aos racistas.
No mesmo debate, o presidente americano estimulou os seus apoiadores a atuarem como "fiscais de urna" no dia das eleições, dando corda novamente às mentiras de que haverá fraude em massa nas eleições da parte dos democratas. Na prática, Trump estimula a sua base a intimidar eleitores de Biden.
Há temor de que a fala de Trump incentive ações violentas de seus apoiadores mais radicais em caso de derrota. O republicano vem se recusando a se comprometer com uma transição pacífica de poder em caso de vitória de Biden, sempre criticando o voto pelo correio, que tem histórico de confiabilidade nos EUA.
Xenofobia no caldo cultural trumpista
O presidente voltou nesta quarta-feira a atacar a democrata Ilhan Omar, uma congressista negra de Minnesota que nasceu na Somália e migrou para os EUA aos oito anos de idade. Em comício na cidade de Duluth, Trump afirmou que a eleição de Biden permitiria uma inundação de imigrantes no estado e, ironicamente, cumprimentou Minnesota por ter eleito Ilhan Omar. Trump insinuou que ela estaria envolvida em corrupção, o que é falso.
Os apoiadores de Trump começaram a gritar "prenda-a, prenda-a", bordão que o presidente estimulava que fosse entoado por seus eleitores em 2016 contra a democrata Hillary Clinton, que ganhou dele no voto popular, mas perdeu no Colégio Eleitoral.
Trump difunde a teoria conspiratória de que só uma fraude em massa via votos pelo correio poderá resultar na sua derrota. Ele sabe que vai perder novamente no Colégio Eleitoral e corre contra o tempo para tentar superar Biden, mesmo que seja jogando sujo como fez no debate de terça ou mentindo aos eleitores como faz praticamente todo dia. O democrata continua liderando nas pesquisas.
Autocrata e racista, Trump é um risco para a democracia. Ele mina a crença no sistema eleitoral, divide a sociedade americana, usa a mentira como arma política, não se responsabiliza por sua resposta negligentemente homicida na pandemia e não defendeu uma proposta razoável para justificar mais quatro anos na Casa Branca.
Qualquer semelhança com o que se vê abaixo da linha do Equador não é mera coincidência. O que está acontecendo nos Estados Unidos em 2020 é um alerta para o que pode ocorrer no Brasil em 2022.
Trump já deu demonstrações de apoio a supremacistas brancos
A estratégia abertamente racista e divisionista seria esdrúxula, mas não surpreende. Nos seus quatro anos de governo, Trump se revelou um presidente racista. Logo no seu primeiro ano de administração, em agosto de 2017, o presidente americano fez uma falsa equivalência entre manifestantes pacíficos e violentos quando comentou ataques de supremacistas brancos contra pessoas que pediam a remoção de uma estátua do general confederado Robert Lee na cidade de Charlottesville, no estado de Virgínia.
Em 12 de agosto de 2017, supremacistas brancos e críticos do general Lee entraram em confronto nas ruas de Charlottesville, o que resultou em ferimentos leves e médios. Logo depois, James Alex Fields Jr., que veio de Ohio apoiar a manifestação pró-Lee da organização "Unite the Right" (Una a Direita, em português"), jogou o seu carro contra manifestantes que pediam a remoção do monumento ao general. Ele matou uma mulher e feriu, pelo menos, outras 19 pessoas.
Em 15 de agosto, Trump deu a famosa declaração: "Havia pessoas muito boas nos dois lados", fazendo uma falsa equivalência entre manifestantes que optaram pela violência, os racistas, e aqueles que protestavam pacificamente, os que defendiam a remoção da estátua do general Lee.
Entre 1860 e 1865, houve a Guerra Civil americana, na qual estados do sul, que defendiam a manutenção da escravidão, rebelaram-se contra a União. Os rebeldes, chamados de confederados, foram derrotados com ajuda de escravos libertos para guerrear.
Até hoje há monumentos aos rebeldes em estados do sul dos EUA. Neste ano, novos protestos contra o racismo estrutural pediram a remoção desses símbolos confederados. Trump se manifestou contra, argumentando que fazem parte da história americana e não devem ser retirados das ruas e praças.
Em 2019, o ex-vice-presidente Joe Biden anunciou a sua entrada na corrida presidencial de 2020 evocando os comentários de Trump sobre os protestos de Charlottesville. "Com aquelas palavras, o presidente dos Estados Unidos fez uma equivalência moral entre aqueles que derramavam ódio e aqueles que tiveram a coragem de se opor a isso."
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