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Trump deixa hospital para manter narrativa eleitoral de coragem anti-covid

Após deixar hospital, Donald Trump chega à Casa Branca para continuar tratamento da covid-19 e retira a máscara para fotos -                                 NICHOLAS KAMM / AFP
Após deixar hospital, Donald Trump chega à Casa Branca para continuar tratamento da covid-19 e retira a máscara para fotos Imagem: NICHOLAS KAMM / AFP

Colunista do UOL

05/10/2020 21h11

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O presidente Donald Trump saiu do hospital na noite desta segunda-feira com pose de Napoleão de hospício para tentar sustentar a narrativa falsa de coragem e força contra o coronavírus. Trump esteve durante três dias no Walter Reed, um hospital militar de alto nível que fica no estado de Maryland, a cerca de dez minutos de helicóptero da Casa Branca.

Ao chegar à sede do governo, Trump subiu a escada e tirou a máscara para bater continência na direção do helicóptero e fazer cara de valente. O presidente americano estava interessado nos vídeos e fotos para tentar transmitir uma imagem de força aos eleitores americanos.

Trump recebeu um tratamento que nenhum outro paciente com coronavírus teve nos EUA. Usou medicamentos que ainda estão sendo testados em pesquisas.

Na sexta, tomou um coquetel de anticorpos, droga experimental dada normalmente a quem está em situação grave. Nesse dia, houve rumores de que ele precisou de um balão de oxigênio. Ele se sentiu mal a ponto de ser transferido para o hospital de helicóptero.

No hospital, Trump foi tratado com o Remdesivir, um antiviral que tem se revelado útil a pacientes com complicações mais sérias de covid-19. Por último, ele recebeu dexametasona, um corticoide para pacientes com pulmões em estado grave. Esse medicamento costuma dar sensação de bem-estar. Isso explica um tuíte de Trump pouco antes de deixar o hospital. "Me sinto melhor do que há 20 anos", escreveu.

Nesse post, ele voltou a sustentar a narrativa falsa que minimiza o risco do coronavírus. "Não tenham medo da covid. Não a deixam dominar sua vida."

Ora, um presidente responsável continuaria de quarentena no hospital, protegendo os outros e se recuperando. Afinal, ele comanda a maior potência do planeta. Mas Trump preferiu agir com desrespeito em relação às pessoas que vivem e trabalham na Casa Branca. Tirou a máscara para fazer pose e conversou com funcionários sem cobrir o rosto. É enorme o risco de infectar mais gente na Casa Branca, que se tornou um local superdifusor da doença.

Até a conservadora rede de TV Fox News, que apoia o republicano, questionou se a atitude de Trump era prudente do ponto de vista médico. Claro que não é. A equipe médica do presidente deixou claro que ele não superou a doença e ainda corre risco.

Hoje, foi anunciado que Kayleigh McEnany, a secretária de imprensa de Trump, está com covid-19. Ela é mais uma das pessoas que conviveram com o presidente e contraíram o coronavírus. Há, pelo menos, outras nove pessoas do círculo presidencial com covid-19, como a primeira-dama Melania

Trump está longe de ser um presidente forte. É fraco e irresponsável. Vai induzir mais gente a correr risco. Vai provocar mais mortes. Tudo para manter uma narrativa eleitoral até a eleição de 3 de novembro e tentar virar o jogo contra o democrata Joe Biden.