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EUA caminham para tempestade perfeita de coronavírus

Revista Nature ataca Trump e anuncia apoio a Biden no pleito à Casa Branca - Drew Angerer e Sarah Silbiger/Getty Images/AFP
Revista Nature ataca Trump e anuncia apoio a Biden no pleito à Casa Branca Imagem: Drew Angerer e Sarah Silbiger/Getty Images/AFP

Colunista do UOL

14/10/2020 12h57

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A 20 dias das eleições de 3 de novembro, os Estados Unidos (EUA) caminham para uma tempestade perfeita de coronavírus. Os novos casos voltaram a crescer no país, ultrapassando 50 mil por dia. Segundo previsões de especialistas, poderão atingir a marca diária de 80 mil no inverno, que começará no dia 21 de dezembro no Hemisfério Norte.

Nesta quarta-feira, dia 14 de outubro, nenhum dos 50 estados americanos apresentava queda no número de casos em relação à semana passada. Em 36 estados, há elevação. Os outros 14 mantinham estabilidade num patamar alto. Na terça, houve 54.512 novos casos de covid-19 nos EUA.

A taxa de internação está crescendo no país. Apesar de ter havido melhora na infraestrutura para atender os doentes e também um maior conhecimento sobre como combater o coronavírus, ainda não há cura em forma de remédio. Normalmente, uma taxa maior de internação precede um aumento na mortalidade. Na terça, morreram 826 pessoas de covid-19.

A pandemia já matou cerca de 216 mil americanos. Os casos se aproximam da marca dos 8 milhões. O país tem aproximadamente 330 milhões de habitantes, o que mostra o potencial de dano que o vírus ainda pode causar.

Segundo o jornal "Financial Times", o médico Scott Atlas, assessor de Trump, tem pressionado o governo federal a adotar a estratégia de imunidade de rebanho. Atlas, que faz contraponto a Anthony Fauci na força-tarefa da Casa Branca, advoga deixar o vírus contaminar os mais jovens e proteger apenas os mais velhos e mais vulneráveis.

Grosso modo, imunidade de rebanho é deixar que o vírus contamine naturalmente uma população até o ponto em que o número de doentes atinja um patamar a partir do qual a taxa de infecção cai, criando uma espécie de proteção coletiva. Em artigo para o UOL, a cientista-chefe da OMS (Organização Mundial da Saúde) expôs a inviabilidade da tática.

Trump aposta em comícios e quer abraçar pessoas

Principal infectologista do país, Fauci é contra, dizendo que tal estratégia resultaria em número estratosférico de mortes. Se os EUA continuarem no caminho da tempestade perfeita, os americanos terão de se trancar em casa no inverno, advertiu Fauci, que serviu a seis presidentes americanos e dirige o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas.

Após se dizer curado de covid-19, o presidente Donald Trump deu início na segunda-feira a viagens pelo país numa conjuntura obviamente desfavorável a ele.

Hoje, o republicano faz comício pelo terceiro dia sem usar máscara e sem se preocupar com distanciamento social. Boa parte de seus apoiadores não cobre o rosto nesses eventos. Distanciamento social inexiste.

Ontem, em comício na Pensilvânia, Trump voltou a dizer que o país "está virando a esquina". Ou seja, vencendo a covid-19, o que é mentira, como mostram os dados mais recentes. Ele indagou quem na plateia havia tido covid-19 e disse que queria abraçá-los, porque agora, como ele, seriam todos imunes ao coronavírus.

"Salvei a sua maldita vizinhança"

É uma atitude irresponsável. Mesmo que esteja realmente imune, Trump dá mau exemplo ao estimular aglomerações e não incentivar o uso de máscaras. Ele expõe mais pessoas a risco com a sua tentativa de normalizar a pandemia, estratégia também usada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Do ponto de vista político, Trump soa desesperado. Ontem, ele fez o seguinte pedido na Pensilvânia: "Mulheres do subúrbio, por favor, gostem de mim... Salvei a sua maldita vizinhança".

O presidente disse que acabou com uma lei do governo Obama que evitava segregação racial nos subúrbios. Trump disse que isso evitou o aumento da violência nessas regiões, associando a presença de moradores negros e latinos de menor renda ao aumento da criminalidade. Preconceito puro.

O apelo às mulheres dos subúrbios é uma tentativa de inverter a preferência de cerca de dois terços desse segmento por Biden, como atestam diversas pesquisas.

Números não favorecem o presidente

Trump está atrás de Biden nas pesquisas no voto nacional (cerca de dez pontos percentuais) e nos estados mais importantes no Colégio Eleitoral, que escolhe indiretamente o ocupante da Casa Branca.

A situação de Trump não é fácil. Ele está perdendo eleitores entre os mais velhos. Não parece que ajuda republicar um post que sugere que Biden deveria estar num asilo, como fez no Twitter. O presidente tem 74 anos. Biden, 77.

Ao exibir seu racismo, Trump afasta ainda mais os eleitores negros, que estão fazendo fila para votar antecipadamente na Geórgia, estado que deveria dar vitória fácil a Trump, mas agora apresenta crescimento de Biden. Segundo a imprensa americana, quase treze milhões de americanos já votaram antecipadamente, seja via correio, seja presencialmente nas já seções abertas em alguns estados.

Biden, que também tem viajado em campanha pelo país, é favorito para vencer no Colégio Eleitoral, no qual é preciso obter, no mínimo, maioria absoluta (270) entre os 538 delegados. Trump está na estrada em busca de uma improvável combinação de fatores para se reeleger.