Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Virada de Cármen Lúcia sela maior derrota de Moro no STF e fortalece Lula
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A virada de Cármen Lúcia sela a maior derrota do ex-juiz federal Sergio Moro no Supremo Tribunal Federal. Apoiadora da Lava Jato, Cármen Lúcia veio se afastando de Moro, Deltan Dallagnol e companhia com as revelações de que a turma de Curitiba corrompeu a lei processual penal.
Em dezembro de 2018, Cármen Lúcia acompanhou o ministro Edson Fachin e votou contra a a suspeição de Moro. Mais de dois anos depois, ela mudou de posição e se uniu aos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski ao decidir pela parcialidade de Moro ao julgar o habeas corpus da defesa de Lula no qual o ex-presidente pede a suspeição de Moro nos processos relacionados a ele.
O voto de Cármen Lúcia nesta terça virou o placar para 3 a 2 a favor da suspeição. Fachin e o ministro Kassio Nunes Marques negaram a suspeição do então juiz federal. O voto de Nunes Marques, inconsistente juridicamente, atendeu aos interesses do presidente Jair Bolsonaro, que teme mais a presença de Lula do que a de Moro na eleição do ano que vem.
Moro recebe o pior carimbo para um juiz, o de parcial. Numa democracia, todo réu tem direito a um julgamento imparcial. Moro negou esse direito a Lula.
A decisão da 2ª Turma do STF também tem um efeito pedagógico sobre a Lava Jato ao desaprovar o método abusivo da operação. As revelações das conversas mantidas no Telegram entre Moro e procuradores mostraram que houve a corrupção da lei processual penal, pois o juiz combinou com a acusação uma estratégia para condenar o acusado. Não havia defesa possível na situação.
Moro, Dallagnol e procuradores da República jogaram fora uma oportunidade de ouro para combater a corrupção endêmica no Brasil. Mas, como disse o ministro Gilmar Mendes e mostraram as ambições políticas de Moro, que virou ministro de Bolsonaro, os cavaleiros do combate à corrupção se corromperam ao longo do caminho.
Numa democracia, o Judiciário é o último refúgio da defesa da cidadania. Juízes e procuradores corruptos são piores do que os criminosos que dizem combater. Não se combate crime cometendo crime.
Moro e a Lava Jato já sofreram derrotas no STF. Houve mudança de entendimento sobre a aplicação da pena de prisão após condenação em segunda instância e a decisão de que réus delatados podem apresentar alegações finais após os reús delatores.
Mas a derrota desta terça foi a maior do ex-juiz federal. Também é uma vitória jurídica e política de Lula, cuja possibilidade de ser candidato a presidente em 2022 vem ganhando força política. O voto de Nunes Marques foi revelador do medo que Bolsonaro tem do petista.
Bolsonaro é outro perdedor do julgamento de hoje da 2ª Turma do STF. Perde força o vaticínio presidencial de que Lula não estará elegível para concorrer à Presidência em 2022.
Pulou do barco
Quando presidiu o STF, Cármen Lúcia manipulou a pauta de julgamento do tribunal. Deixou na gaveta uma ação de efeito geral que poderia ter evitado a prisão de Lula por 580 dias em Curitiba. Nesta terça, com o voto a favor da suspeição de Moro, ela fez um favor à modesta biografia. Ela não perdeu a melhor oportunidade para pular do barco.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.