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Como Bolsonaro, Guedes atravessa a rua para pisar em casca de banana
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Há certa injustiça em considerar que o presidente Jair Bolsonaro é o principal personagem do governo a gerar problemas e crises do nada. Paulo Guedes, ministro da Economia, é outro especialista em atravessar a calçada para pisar em casca de banana. Como um todo, o governo tem alta capacidade de dar tiros no pé.
Mas é difícil entender o que leva um ministro da Economia a falar tantas bobagens como se suas palavras não tivessem impacto. Não aprendeu nada em dois anos e pouco?
Reportagem do "Valor Econômico" revela que Guedes fez ataques gratuitos à China em reunião do Conselho de Saúde Suplementar. No melhor estilo trumpista, ele disse que "o chinês inventou o vírus" e que a vacina da potência asiática seria menos eficiente do que os imunizantes americanos. Qual é o sentido de atacar o maior parceiro comercial do Brasil e país do qual temos dependência para produzir vacinas?
Mas o ministro não parou por aí. Apesar de fato notório, ele fez confissão sobre a incapacidade do atual governo para dar respostas à pandemia: "Nós do governo não teremos capacidade de cuidar da saúde do povo". A afirmação ocorreu no contexto da velha demonização do serviço público com exaltação equivocada da iniciativa privada.
Segundo Guedes, os foguetes da Nasa agora são privados porque o setor público não tem capacidade para a tarefa. Ele só se esqueceu de seis décadas de forte investimento público americano na exploração do espaço.
Segundo o "Valor", Guedes pediu que a reunião não fosse divulgada ao público quando soube que estava sendo gravada e transmitida. Ora, ele compreende muito bem que sua fala provocaria problemas na já tumultuada relação entre o Brasil e a China.
Arrogante, o ministro pensou que estava numa reunião secreta na qual poderia arrotar as besteiras de sempre, como dizer que a economia brasileira tem problemas porque o país foi governado pela esquerda nas últimas décadas. Paulo Guedes é uma pessoa inadequada para ocupar o Ministério da Economia, mas essa incapacidade talvez seja pré-requisito para o posto na atual administração.
Trapalhão e farsante, Guedes tem uma visão de mundo estreita inclusive sobre a sua área de especialização. Até hoje não entendeu que a pandemia mudou a política econômica do mundo desenvolvido e mostrou a importância do estado para combater a covid-19 e reduzir desigualdades. Repete chavões abandonados até pelos neoliberais.
No seu americanismo infantil, ele poderia estudar as medidas que estão sendo adotadas pelo presidente Joe Biden. Os EUA decidiram implementar um projeto econômico com uma participação estatal que não era vista desde o New Deal de Franklin Delano Roosevelt.
Mas o ministro da Economia prefere gastar o seu tempo para falar besteiras sobre a China, o programa espacial americano e o papel do estado e da iniciativa privada no desenvolvimento do Brasil. Temos de reconhecer que Bolsonaro tem um ministro à sua altura. O projeto de destruir o Brasil com uma visão de mundo tacanha encontrou um porta-voz perfeito em Paulo Guedes.
Enorme derrota
O começo dos trabalhos da CPI da Pandemia nesta quinta foi uma enorme derrota do governo, responsável por agravar os efeitos da tragédia sanitária no Brasil. Não deu certo a tentativa de impedir a indicação de Renan Calheiros (PMDB-AL) para relator. Tampouco funcionou a estratégia para obstruir e atrasar os trabalhos da comissão do Senado.
Falar em investigação de governadores e difundir comemorações do Palácio do Planalto foram bobagens ditas a respeito da reunião de hoje. A negligência homicida de Bolsonaro, que implementou estratégia irresponsável de imunidade de rebanho, será o foco. Em minoria na CPI, o governo tem muito com o que se preocupar.
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