Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Wajngarten tenta proteger Bolsonaro na CPI, mas produz prova contra governo
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Apesar da tentativa de um depoimento para proteger Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do Governo, criou problemas para o presidente da República ao depor na CPI da Pandemia.
Wajngarten produziu prova da omissão do governo ao confirmar que a administração Bolsonaro deixou de responder por dois meses a uma carta da Pfizer com oferta de vacinas. Ora, o governo desprezou uma proposta que teria adiantado a vacinação no Brasil e evitados mais mortes e mais doentes por covid-19.
Como notou o relator Renan Calheiros (MDB-AL), a atuação de Wajngarten no caso é prova do aconselhamento paralelo ao presidente na pandemia porque o então secretário se intrometeu numa tentativa de negociação entre o Ministério da Saúde e a Pfizer, assunto fora de sua alçada funcional.
Evasivo, o ex-secretário de Comunicação do Governo foi contraditório com a entrevista que deu à revista "Veja", na qual disse ter participado de negociação com a Pfizer, reduzindo preços e prazos. "Abri as portas do Palácio do Planalto (...). Fizemos várias reuniões", afirmou na entrevista.
À "Veja", Wajngarten disse que houve "incompetência" do Ministério da Saúde chefiado pelo general Eduardo Pazuello. Segundo a fala do ex-secretário na CPI, a compra da vacina não ocorreu devido a cláusulas draconianas apresentadas pela Pfizer e à "burocracia excessiva" da parte do governo.
Wajngarten mentiu na entrevista à revista ou mentiu ao depor na CPI, na qual disse que não participou da negociação com a Pfizer. Renan afirmou que aguardaria a íntegra da entrevista à revista para eventual pedido de prisão.
Os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Humberto Costa (PT-PE) lembraram a campanha "O Brasil Não Pode Parar", uma peça que se chocava com as recomendações de distanciamento social e uso da máscara. A linha de comunicação da Wajngarten estava em sintonia com a tese de imunidade de rebanho, resposta negligentemente homicida de Bolsonaro para deixar o vírus circular livremente no país.
Lançada na internet pela Secom em março do ano passado, a campanha "O Brasil Não Pode Parar" seria apagada das redes sociais do órgão. Na CPI, Wajngarten disse "desconhecer" que a campanha tenha sido divulgada pelo governo, apesar de cópias de posts da época provarem o uso pela secretaria.
"[Não houve] Nenhuma interferência do presidente da República em nenhuma campanha do governo", disse Wajngarten. Seria a primeira vez na História que um presidente da República não opinaria sobre campanhas de publicidade da própria administração. Wajngarten exagerou ao mentir na CPI para preservar Bolsonaro, como disse Renan.
Houve duas ameaças de prisão ao ex-secretário, uma do presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM), e outra do relator Renan Calheiros. Aziz e Calheiros se queixaram da falta de objetividade do ex-secretário e das respostas que se chocavam com a entrevista à revista "Veja".
O depoimento, que começou às 10h05, teve duas interrupções. Uma delas pouco antes do meio-dia e outra por volta das 13h30. Ele repetiu com exagero o depoimento que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deu na semana passada à CPI da Pandemia. Na retomada dos trabalhos, o ex-secretário voltou a confirmar a demora de dois meses na resposta à oferta de vacinas feita pela Pfizer.
Para sensibilizar os senadores, ele adotou tom apelativo ao citar uma necessidade especial de uma filha, uma atitude indigna. Fabio Wajngarten deveria ter mais respeito pela própria família e preocupação em preservar a filha. Bolsonarista genuíno, ele integrou o chamado "gabinete do ódio" (grupo de assessores que produz ataques contra desafetos nas redes sociais). Wajngarten bancou todos os ataques de Bolsonaro a jornalistas, além de ter feito agressões por conta própria.
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