Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Abusos da Lava Jato e corporativismo desmoralizaram lista tríplice para PGR
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Os abusos impunes da Lava Jato e o corporativismo exagerado do próprio Ministério Público Federal desmoralizaram a lista tríplice da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). Essa lista é enviada ao presidente da República para que ele escolha o PGR (procurador-geral da República).
A lista da ANPR foi seguida nos governos Lula, Dilma e Temer como o principal critério para indicar o procurador-geral da República. Lula e Dilma sempre apontaram o mais votado da lista. Temer optou pela segunda colocada, Raquel Dodge. Bolsonaro simplesmente ignorou a eleição interna da ANPR e indicou Augusto Aras para o comando do Ministério Público Federal. Aras protege Bolsonaro e deverá ser reconduzido.
A lista tríplice foi criada no início do ano 2000 para fortalecer a autonomia do Ministério Público Federal, mas não precisa ser seguida pelo presidente da República. A Constituição diz que cabe ao presidente indicar o procurador-geral, que precisa ser aprovado pelo Senado, mesmo procedimento dos apontamentos para ministros do Supremo Tribunal Federal.
Na Lava Jato, o Ministério Público Federal atuou como poder paralelo aos demais. Figuras como Deltan Dallagnol corromperam a lei processual penal e continuam no serviço público. O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) deu uma de engavetador-geral em relação aos desmandos da categoria em conluio com Sergio Moro.
Bolsonaro é um misógino cretino de plantão na Presidência. É uma pena que tenha o poder de indicar alguém como Aras. Mas é melhor que a escolha seja do presidente do que de uma categoria que se encastelou nos seus privilégios e arrogância nos últimos anos.
Um presidente da República tem o filtro dos votos dos eleitores. Essa lista da ANPR serve ao propósito de reforçar um corporativismo que se revelou danoso ao país.
O presidente da ANPR, Ubiratan Cazetta, tem falado na importância de freios e contrapesos e de autocontenção, numa alusão ao papel do Senado para referendar ou recusar uma escolha do presidente. Bolsonaro deverá apontar Aras para recondução no fim de setembro.
Ora, a Lava Jato, a ANPR e o Ministério Público Federal dinamitaram qualquer tipo de autocontenção e de freios e contrapesos com o que fizeram nos verões passados. São corresponsáveis pela eleição de Bolsonaro e pela destruição institucional do país.
Três subprocuradores-gerais são candidatos na eleição de hoje da ANPR: Luiza Frischeisen, Mario Bonsaglia e Nicolao Dino. Apesar das qualidades pessoais dos postulantes, a ANPR fará hoje um mero teatro. Talvez devesse gastar o dia com um pouco de autocrítica.
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