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Kennedy Alencar

OPINIÃO

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Fracassou aposta de Doria de tomar base de Bolsonaro e virar anti-PT da vez

23.abr.2019 - João Doria, governador de São Paulo, tira uma foto com o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto - Marcos Corrêa/PR
23.abr.2019 - João Doria, governador de São Paulo, tira uma foto com o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto Imagem: Marcos Corrêa/PR

Colunista do UOL

23/05/2022 15h15

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João Doria acabou sendo engolido pelo Bolsodoria, nome do voto casado em 2018 para a Presidência da República e o governo de São Paulo. Fracassou a aposta em ser uma alternativa a Bolsonaro no campo da direita e extrema-direita.

Ao longo da pandemia de covid-19, Doria atuou com responsabilidade ao buscar trazer a vacina para o Brasil. Sua ação como governador contribuiu para pressionar o presidente Jair Bolsonaro a comprar os imunizantes que ele tanto relutava em adquirir. Mas essa bandeira nunca conseguiu ser traduzida em voto.

No cálculo político de Doria, contam aliados, ele imaginava que a pandemia destruiria Bolsonaro politicamente e abriria caminho para o tucano se apresentar em 2022 como o anti-PT da ocasião. Segundo essa conta, Lula continuaria fora do páreo presidencial.

Deu tudo errado para Doria, que, ironicamente, ingressou na vida eleitoral jogando lenha na fogueira da antipolítica.

Apesar do desastre sanitário agravado pela incompetência e negacionismo do governo, Bolsonaro manteve a sua base mais fiel, o que bloqueou a entrada de Doria no segmento de direita e extrema-direita. O carimbo do Bolsodoria só serviu para que os aliados do presidente o classificassem de traidor.

A reentrada de Lula no jogo presidencial, com a escolha de Geraldo Alckmin para vice, parece ser um exemplo perfeito do dito popular de que a vingança é um prato que se come frio. De centro-esquerda, Lula conseguiu com Alckmin sinalizar para públicos de centro e centro-direita. O petista estreitou o caminho da chamada terceira via, o assunto mais superestimado pela imprensa brasileira na atual campanha presidencial.

O ex-tucano Alckmin, a quem Doria traiu em 2018, abraçou a candidatura petista e deixou mais evidente a crise do PSDB, partido que caminha para se tornar uma legenda como o Cidadania.

A imagem de arrogância pessoal decerto contribuiu para o fim do projeto presidencial do ex-governador paulista. O estilo lhe rendeu inimizades no PSDB. No entanto, foi cruel o enterro que o próprio partido fez da candidatura de Doria, com uma cristianização explícita do pré-candidato que vencera as prévias internas.

Apesar disso, o que matou mesmo a candidatura de Doria foi a absoluta falta de votos, porque Lula e Bolsonaro já tornaram a atual corrida presidencial plebiscitária e fecharam as vias para outros postulantes.

Nesse contexto, Simone Tebet (MDB) cai como uma luva para candidatos a governador e ao Senado que preferem não optar por Bolsonaro ou Lula no primeiro turno a fim de priorizarem seus projetos regionais. Candidata desconhecida de grande parte do eleitorado e com baixa rejeição, é um fardo mais leve de ser carregado do que seria Doria.