Haddad coleciona inimigos por buscar fim de farra tributária dos mais ricos
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, coleciona inimigos por querer aumentar a arrecadação do governo após a "herança" deixada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Paulo Guedes, que deixaram uma fatia do orçamento sob controle do Congresso Nacional, disse o colunista Kennedy Alencar no Análise da Notícia desta quarta-feira (24).
Haddad pega uma realidade bem diferente da dos [ministros] antecessores dele [...] A questão fiscal tem dominado o debate econômico no Brasil nos últimos anos, mas Haddad convive com uma coisa diferente que é o poder que o Congresso abocanhou do orçamento. Quando se tratava da questão fiscal, o Executivo, com pouca margem de manobra que tinha, cabia a ele decidir onde cortar e fazer.
Agora, não. A margem de manobra diminuiu ainda mais porque Paulo Guedes e Bolsonaro entregaram o orçamento para o Congresso. A forma de sobreviver a tantos crimes na pandemia na Presidência contra a democracia foi entregar a Casa Civil para Ciro Nogueira e ficar na mão do Arthur Lira na Câmara dos Deputados. E Guedes não era respeitado pelo Congresso.
Haddad ainda paga a conta pelas desonerações feitas no governo Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em 2016.
A questão fiscal não tinha essa variável antes, e se agravou muito com Bolsonaro. Haddad ainda tem uma herança grande das chamadas desonerações. No governo Dilma, houve uma desoneração em massa e isso contribuiu para a queda dela. Ela acabou com superávit primário, abriu mão de receita e ficou sem poder, inclusive, para ter ajuste fiscal.
Os memes foram uma chuva, porque tinham o objetivo de dificultar a batalha do Haddad para desonerar. Quando você fala que o Haddad é 'Taxadd' e que está aumentando os impostos, você olha para o dado concreto e a carga tributária não subiu, até caiu. Ele cobrou imposto de quem? Dos mais ricos, com fundos exclusivos e que tinham dinheiro fora.
Não é um 'Taxadd' do povo brasileiro, é um ministro da Fazenda que está tendo a coragem de tocar o dedo na ferida dos privilégios dos mais ricos, das grandes empresas e dos bilionários. Haddad está precisando ir atrás de mais dinheiro.
A competição do Congresso Nacional consiste em: os parlamentares gastam as emendas e Haddad faz o controle da despesa.
Ele tem a competição do Congresso, que domina uma fatia do orçamento, fingindo que a questão fiscal não é com ele. Assim, é muito gostoso: 'Quero poder mandar em verba, mas quem tem que cumprir a meta fiscal e cortar despesa é você, ministro Fernando Haddad e presidente Lula'. Foi o que Lira fez essa semana, que falou em acabar esse caminho de buscar mais receita e que tem que cortar mais despesa. Podia começar cortando as emendas parlamentares.
Ao mesmo tempo em que eles ecoam discurso da Faria Lima de rigor fiscal e cobrança ao ministro da Fazenda, eles ficam sentados em cima das emendas e despesas. A desoneração é gasto. É quando o governo abre mão de ter um tipo de receita. Isso é um tipo de despesa. Esse debate ninguém quer fazer.
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