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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Elizabeth 2ª só e Jair aglomerado mostram diferença entre bom e mau exemplo

Neste sábado (17), Elizabeth 2a em funeral do marido; Jair Bolsonaro em aglomeração em Goiás - Jonathan Brady/AFP e Reprodução/Instagram
Neste sábado (17), Elizabeth 2a em funeral do marido; Jair Bolsonaro em aglomeração em Goiás Imagem: Jonathan Brady/AFP e Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

17/04/2021 20h19

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Sem máscara, interagindo com fãs e mandando às favas qualquer cuidado sanitário, Jair Bolsonaro promoveu nova aglomeração, desta vez em Goianópolis, neste sábado (17). O mau exemplo foi transmitido, ao vivo, pelo major Vitor Hugo (PSL-GO), líder do partido. Com as 2.865 mortes das últimas 24 horas, chegamos a quase 372 mil óbitos.

Enquanto isso, com máscara, distanciamento social e um número reduzido de convidados, a rainha Elizabeth 2ª despediu-se de seu marido, o príncipe Philip, no Castelo de Windsor.

A imagem da monarca de 94 anos sentada, sozinha, para acompanhar os serviços fúnebres de seu companheiro por 73 anos viralizou e gerou comoção nas redes sociais em todo o mundo.

A rainha não é chefe de governo, mas de Estado. Espera-se da monarca que seja uma referência ao Reino Unido, um exemplo. Elizabeth sabe, portanto, que ela não pode ser uma exceção em meio à pandemia - seus súditos têm direito a apenas 30 convidados em funerais.

Mesmo que o funeral tenha contado com militares e pompas, a monarquia britânica tem a consciência de que a transmissão da imagem da solidão da rainha, mais do que reforçar que as regras valem para todos, também é uma mensagem poderosa: apesar da dor, cuidem-se, mantenham distanciamento social.

Bolsonaro também quer governar pelo exemplo. E sabe da força da imagem que transmite por ser presidente. Com suas constantes aparições públicas, promovendo aglomerações e menosprezando a gravidade da doença, ele sabotou os esforços de Estados, municípios e da sociedade para reduzir o ritmo de mortes. E convidou muita gente a fazer o mesmo.

O presidente defende que a solução é ir para a rua. E e, se pegar a doença, pegou. E se morrer, morreu. E que, paciência, todo mundo morre. O importante é que a economia volte ao que era antes o mais rápido possível para não atrapalhar suas chances de reeleição.

Se pensasse de outra forma, teria adotado outra estratégia, assumindo o papel de comandante da guerra contra o vírus. Possivelmente, sua popularidade estaria até melhor e a reeleição mais garantida.

Mas, aí, não seria Bolsonaro. Preferiu um cálculo eleitoral que até faz sentido para quem consegue dormir bem à noite sabendo que muita gente morreu por sua causa. Sua natureza bélica dificulta estabelecer um diálogo com adversários políticos. E o apoio da extrema direita o incentiva a continuar adotando medidas e discursos que menosprezam a ciência.

Em vários municípios, falta oxigênio para pacientes não morrerem sufocados. A fome avança por conta da demora do próprio Bolsonaro em aprovar o retorno do auxílio emergencial - em verdade, ele usou essa demora para garantir que trabalhadores não entrassem em isolamento. E o atraso na vacinação tira vidas e deprime a economia, atraso que é sua responsabilidade, pois se negou a encomendar vacinas em quantidade suficiente no ano passado.

Bolsonaro ainda provocou os membros da CPI da Pandemia, que deve começar os trabalhos em breve no Senado Federal para investigar as omissões e perversões de seu governo. Trouxe em sua visita a Goianópolis ninguém menos que o general Eduardo Pazuello, que foi o executor da necropolítica de Bolsonaro no Ministério da Saúde. Quis garantir apoio. Pois sabe que se o general estiver em maus lençóis, ele também estará. Afinal, Pazuello foi um fantoche.

A mensagem das imagens, no caso brasileiro, é de alguém que se preocupa tanto consigo mesmo que não prioriza a vida. E faz questão de deixar isso claro.