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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro conspira contra a República usando vídeos toscos de WhatsApp

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

29/07/2021 22h31

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O que você acha de alguém que acusa uma pessoa de roubo sem apresentar nenhuma prova? Pior: exigindo que essa pessoa demonstre sua honestidade, caso contrário sofrerá uma campanha de difamação e será vista como ladra? É, no mínimo, alguém sem ética e escrúpulos, um risco à sociedade, que precisa ser contido. O que fazer, contudo, quando esse caluniador que inverte o ônus da prova é o próprio presidente da República?

"Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo a acusação. Me apresente provas [de que] não é fraudável", afirmou Jair Bolsonaro.

Em meio à sua campanha pela introdução do voto impresso, ele havia prometido apresentar provas cabais de fraudes na urna eletrônica em uma live na noite desta quinta (29). Convidou jornalistas, colocou a TV Brasil de prontidão para transmiti-lo, divulgou amplamente entre seus seguidores. Mas no dia D, na hora H, fué, fué, fué, fuéééé...

Disse com todo óleo de peroba disponível no mercado que "não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas". E jogou a responsabilidade de atestar a lisura das urnas eletrônicas para o Tribunal Superior Eleitoral, ignorando que, a cada quatro anos, a Justiça já realiza testes públicos para mostrar a confiabilidade do sistema. E desconsiderando que o voto eletrônico é sim auditável. Em suma, é a tática miliciana de todos são culpados até que ele decida o contrário.

É triste ver Bolsonaro minar a credibilidade das eleições, usar as Forças Armadas para atacar as instituições como se elas fossem seu pinscher de estimação e ameaçar o país com golpe de Estado caso não seja reeleito. Mas deprimente mesmo é o fato de ele usar toscos vídeos com desmentidas teorias da conspiração que circulam há tempos nas redes bolsonaristas como indícios e evidência de que as urnas eletrônicas foram fraudadas. Já não bastasse ele espancar a democracia diariamente, agora nos trata como membros de um rebanho que aceita essas bobagens de forma acéfala.

Em outras palavras, na live desta quinta, Bolsonaro conspirou contra a República, tratando a esmagadora maioria dos brasileiros como idiotas.

Jair passou quase três décadas sendo reeleito como um parlamentar come-dorme, sem ter aprovado um mísero projeto de lei relevante. Enquanto era reconduzido a cada quatro anos à possibilidade de coletar mais rachadinhas dos servidores de seu gabinete, não questionou a lisura das eleições para deputado federal no Rio de Janeiro.

Bolsonaro começou a despejar esse chorume durante a eleição de 2018 de forma preventiva. Desde então, tem dito que a venceu no primeiro turno. "Pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito no primeiro turno mas, no meu entender, teve fraude", afirmou, de forma bisonha, em março de 2020. Nunca mostrou nada decente e nem vai mostrar.

Ele tem, dito que "ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições". Parte de uma premissa mentirosa (que as eleições não são limpas no Brasil porque não há voto impresso) e coloca em risco o processo de escolha do próximo presidente. Os sucessivos ataques à urna eletrônica querem preparar terreno para uma derrota em 2022, excitando seus seguidores civis mais fiéis e deixando suas tropas de policiais simpatizantes de prontidão. A impressão do voto, para ele, tem o objetivo de criar mais uma forma de questionar a eleição, não de melhorar a sua segurança.

A live desta quinta serviu para animar o seu rebanho e distribuir argumentos, mesmo que falaciosos e fantasiosos, para que disputem a narrativa. E atacar, mais uma vez, o Tribunal Superior Eleitoral e seu presidente, o ministro Luís Roberto Barroso.

Se o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, tiver dignidade, não receberá mais o presidente para um cafezinho passa-pano.

Bolsonaro é um moleque mimado que pensa primeiro em si mesmo. E, em segundo, também em si. Com tudo isso, o pequeno Jair mostra que está morrendo de medo do que vai acontecer se ele amanhecer em Primeiro de Janeiro de 2023 sem a imunidade presidencial.