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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

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Bolsonaro ataca medida do TSE que dificulta ação de milicianos na eleição

Agência Brasil
Imagem: Agência Brasil

Colunista do UOL

02/09/2022 17h07

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O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), criticou a obrigação de deixar o celular com o mesário antes de se dirigir à cabine de votação. A medida determinada pelo TSE dificulta que milicianos e coronéis controlem o direcionamento do voto de moradores de uma comunidade.

"No meu entender é mais um abuso do TSE. Estão tomando mais medidas que prejudicam sempre o nosso lado [grifo do colunista]. Lamentavelmente, o TSE tem agido desta maneira", afirmou, nesta sexta (2), no Rio Grande do Sul.

A obrigação de deixar o celular com o mesário antes de ir à cabine de votação ajuda a aumentar, e muito, a liberdade do eleitor. Gravar em vídeo o próprio voto na urna eletrônica já era proibido. Mas o Tribunal Superior Eleitoral dificultou ainda mais isso ao decidir, por unanimidade, no último dia 25, que mesários retenham celulares antes do voto. E quem se negar pode ter que se justificar para a polícia.

Em um lugar dominado por milicianos ou no qual novos e velhos coronéis exercem o voto de cabresto, se um morador for orientado antecipadamente a fazer um vídeo quando estiver na cabine para provar que escolheu um candidato apontado pelos donos da comunidade, qual a chance de dizer não?

Garantir que o celular possa ficar com o mesário é impedir que criminosos saibam como votaram os membros de uma determinada comunidade. Estes poderão dizer que não tiveram culpa, até tentaram gravar, mas o maldito mesário não deixou.

Não só isso. Um vídeo gravado na cabine eleitoral pode ser usado como prova para a compra de voto. Sim, ainda há muita gente que vende o seu direito de escolher os representantes de forma independente em troca de dinheiro para comprar comida. A fome é um bicho que devora até a consciência política.

E, claro, há também casos identificados pelo TSE em que uma pessoa vota de propósito em A dizendo que escolheu B, e grava em vídeo só o finalzinho para "denunciar" que a urna está "viciada". Esse comportamento criminoso já causou dores de cabeça em outras eleições, pois é o subsídio de outro tipo de milícia, as digitais, que envenenam com mentiras a política e a democracia.

Logo depois da decisão do tribunal, no dia 25, o presidente afirmou, em suas contas em redes sociais, que "ofender, ameaçar e restringir o direito à liberdade, em suas várias vertentes, contraria a única carta à democracia, a nossa Constituição de 1988". Ou seja, criticou o TSE e os organizadores das cartas e manifestos pela democracia da Faculdade de Direito da USP e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

A questão é que, neste caso, a principal liberdade limitada é de milícias e coronéis que tentam impor cabresto da população mais pobres. Pelo jeito, isso incomoda bastante o presidente.