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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rodrigo Garcia empurra tucanos históricos como FHC a declarar voto em Lula

Para dar apoio a Lula, FHC usou foto em que ele prestou solidariedade ao petista na morte da ex-primeira dama Marisa Letícia - Ricardo Stuckert
Para dar apoio a Lula, FHC usou foto em que ele prestou solidariedade ao petista na morte da ex-primeira dama Marisa Letícia Imagem: Ricardo Stuckert

Colunista do UOL

05/10/2022 11h50

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O governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB) provocou uma revoada de tucanos históricos, como FHC e Serra, em direção a Lula ao declarar seu apoio "incondicional" à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), nesta terça (4). Para além da preocupação com a democracia, em jogo neste segundo turno, pesou a percepção de que é preciso proteger a própria biografia dos interesses pessoais dos neotucanos.

"Diante das alternativas postas, votarei em Lula", declarou o senador José Serra, que perdeu do petista na eleição presidencial de 2002, poucas horas após um sorridente Garcia posar para fotos ao lado de Jair.

"Neste segundo turno voto por uma história de luta pela democracia e inclusão social. Voto em Luiz Inácio Lula da Silva", afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ganhou do petista nas eleições de 1994 e 1998, através de sua assessoria de imprensa e nas redes sociais nesta quarta.

O diretório nacional do PSDB optou pela neutralidade, liberando seus filiados a declarem votos em quem quiserem, o que provocou duras críticas de membros da ala mais tradicional do partido.

Tasso Jereissati, Aloysio Nunes Ferreira, José Aníbal, Pimenta da Veiga e Teotônio Vilela Filho também declararam apoio a Lula, alguns deles ainda no primeiro turno, bem como nomes de administrações tucanas como Armínio Fraga, André Lara Resende, Claudia Costin, José Gregori, entre outros.

A opção de Garcia de apoiar "incondicionalmente" Bolsonaro, seja por seu alinhamento ideológico ao capitão, seja pela necessidade de manter cargos da atual administração numa possível gestão Tarcísio de Freitas, gerou irritação entre membros do seu próprio governo.

Parte dos secretários está voando para longe, como Rodrigo Maia, filiado ao partido, que pediu demissão, nesta quarta, do cargo de secretário de Assuntos Estratégicos. A decisão de Garcia foi tomada sem consulta ao PSDB, atropelando as instâncias decisórias, o que irritou ainda mais o diretório estadual.

Entre os tucanos, isso sugere que o governador, que entrou no partido em maio do ano passado para disputar o Palácio dos Bandeirantes após ter feito carreira no PFL/DEM (hoje União Brasil), pode estar de saída do PSDB.

PSDB na Câmara foi criticado por alinhamento a Bolsonaro

Ao longo dos últimos anos, o PSDB tem sido criticado por abrir mão de colocar a social-democracia como uma alternativa à extrema direita. Pelo contrário, lavou as mãos. E, no histórico de ascensão e queda das democracias, a grande responsável por limitar a expansão do extremismo de direita é exatamente a direita liberal.

Mesmo com a declaração tardia do PSDB, em setembro do ano passado, de que iria para a oposição ao governo, os deputados do partido continuaram votando alinhados à base bolsonarista. Sem a oposição da direita liberal, o bolsonarismo se esparramou mais tranquilamente, ocupando o lugar que era dos tucanos.

Na Alemanha, a CDU (partido de centro-direita) já se juntou ao SPD (centro-esquerda) para barrar a extrema-direita. Com um governo Lula mais ao centro, os tucanos teriam espaço para ver convertidas pautas que lhe são caras. Mesmo assim, o diretório nacional do PSDB preferiu permitir que membros escolhessem Bolsonaro, enquanto veem seu poder em São Paulo, ex-fortaleza nacional do partido, ser substituído pelo de Jair e amigos.

Basta ver o mapa de votação que mostra o interior tucano tomado por Tarcísio, que venceu em 500 municípios, enquanto Haddad levou a populosa capital e mais 90 cidades. Garcia venceu em apenas 52.

E como resultado dessa visão, o partido diminuiu. Nesta eleição, o PSDB de Aécio Neves foi de 22 para 13 deputados na Câmara.

As declarações de votos dos tucanos da ala social-democrata mostram que a parte do partido que foi exilada na ditadura militar, arquitetou a Constituição de 1988 e/ou defendeu direitos fundamentais sabe que neutralidade é equivalente a conivência diante do histórico do atual governo.

E que a opção entre o campo democrático e o autoritário não é uma escolha muito difícil.